O barroco é um movimento cultural e artístico ocorrido entre o final do século XVI e o século XVIII. Sua origem foi em Roma, na Itália, estendendo-se por outros países europeus e algumas colônias.
Nesse período, o homem vivia um grande conflito: de um lado, a convivência com os valores renascentistas; de outro, o resgate de valores religiosos e a busca pela salvação. A literatura e as outras artes traduziam as contradições dessa tensão.
Por isso, as principais características do barroco são:
Entre os séculos XV e XVI, muitos intelectuais da época buscavam respostas racionais para as suas perguntas, baseadas na razão e não na religião.
O Renascimento desenvolveu-se nesse contexto. Houve uma renovação no tratamento de várias questões e o aumento da produção cultural, impulsionado pela imprensa.
O sentimento nacionalista cresceu. Além disso, aumentaram as críticas a doutrinas da Igreja Católica e a determinadas práticas do clero, desencadeando o movimento de reforma religiosa conhecido como Reforma Protestante.
Esse movimento rompeu a unidade do cristianismo (católico) no Ocidente, levando ao surgimento de diversas igrejas independentes.
Como a Igreja Católica perdia cada vez mais o seu poder e influência, ela acelerou a tomada de providências para tentar impedir o avanço das ideias protestantes, em um movimento conhecido como Contrarreforma ou Reforma Católica.
Dentre as medidas tomadas pela instituição estão a fundação da Ordem dos Jesuítas (1534), a realização do Concílio de Trento (1545 a 1563) e a volta da Inquisição (incluindo uma lista de livros proibidos aos católicos).
É nesse cenário turbulento que se encontra o homem do Barroco: dividido entre a fé e a razão, lutando internamente com questões existenciais, em um tempo de perseguições da Igreja Católica e sua luta pelo poder.
Uma das táticas adotadas pela Igreja Católica para manter sua influência foi o uso e o patrocínio da arte. Assim, a instituição religiosa influenciou fortemente o Barroco, moldando as suas características.
Na Europa do Norte, o Barroco teve nuances diferentes, porque o movimento protestante ganhou mais força na região, difundindo-se por ela. Já no sul europeu, o domínio católico prevaleceu nos territórios atuais de Portugal, Espanha e Itália.
Na linguagem do Barroco dois estilos se destacam: o cultismo e o conceptismo.
Cultismo ou gongorismo
O foco do cultismo é a elaboração de uma linguagem rebuscada. Para atingir esse objetivo, os autores usam:
Conceptismo ou quevedismo
O foco do conceptismo é o trabalho com as ideias e os conceitos, seguindo um raciocínio lógico e valorizando a construção intelectual dos textos. Para atingir esse objetivo, os autores usam:
Conheça mais as figuras de linguagem.
O cultismo é mais comum na poesia e o conceptismo na prosa, mas os dois estilos podem ser usados no mesmo texto.
Como reflexo dos impactos dos Grandes Descobrimentos, Portugal e Espanha estão entre os principais centros culturais do barroco na Europa.
Os grandes autores do barroco espanhol foram Luis de Góngora y Argote (1561-1627) e Francisco de Quevedo (1580-1645).
Por sua vez, os principais autores e obras do barroco em Portugal foram:
O Barroco no Brasil ocorreu entre os séculos XVII e XVIII. Iniciou-se em 1601 com a obra Prosopopeia, de Bento Teixeira. Na época da colonização, o catolicismo era a religião oficial de Portugal.
Padre Antônio Vieira foi o principal escritor do barroco português e brasileiro. Além dele, os principais autores do barroco no Brasil foram:
Padre Antônio Vieira nasceu em Lisboa e ainda criança foi morar no Brasil, onde passou a maior parte da sua vida. Considerado o principal escritor do barroco português, sua obra abrange as literaturas portuguesa e brasileira.
Vieira teve sólida formação intelectual e cultural. Não é por acaso que Fernando Pessoa o chamou de Imperador da Língua Portuguesa.
Sendo um brilhante orador, ele se tornou um frequente visitante das cortes portuguesas e também desempenhou papéis em missões diplomáticas em outras cortes europeias.
Membro da Ordem dos Jesuítas, Vieira dedicou-se a causas humanitárias e teve confrontos com colonos e a própria Igreja Católica na defesa de seus ideais. Foi contrário à escravização dos índios e defendeu outras causas, como a dos judeus.
O conceptismo está muito presente nos sermões de Vieira. Veja um trecho do Sermão da Sexagésima, um dos mais conhecidos sermões de Vieira, proferido na Capela Real de Lisboa em 1655.
[...] Não nego nem quero dizer que o sermão não haja de ter variedade de discursos, mas esses hão de nascer todos da mesma matéria e continuar e acabar nela. Quereis ver tudo isto com os olhos? Ora vede: Uma árvore tem raízes, tem tronco, tem ramos, tem folhas, tem varas, tem flores, tem frutos. Assim há de ser o sermão: há de ter raízes fortes e sólidas, porque há de ser fundado no Evangelho; há de ter um tronco, porque há de ter um só assunto e tratar uma só matéria; deste tronco hão de nascer diversos ramos, que são diversos discursos, mas nascidos da mesma matéria e continuados nela; estes ramos não hão de ser secos, senão cobertos de folhas, porque os discursos hão de ser vestidos e ornados de palavras.
Gregório de Matos e Guerra é considerado o primeiro grande poeta brasileiro. Nascido em Salvador e filho de família abastada, recebeu ampla formação cultural e estudou Direito na Universidade de Coimbra, em Portugal.
Os seus textos contêm influências de poetas barrocos como Quevedo e Gôngora. Mas, além disso, incorporam a vida colonial, abordando temas locais, expressões populares e termos de origem indígena e africana.
Durante a vida do escritor, seus poemas não foram publicados de forma impressa. Na época, era comum serem declamados em voz alta e memorizados. Também poderiam circular em cópias manuscritas (códices).
Sua obra divide-se em dois tipos de poesia: lírica (amorosa, filosófica ou religiosa) e satírica. Em razão de suas sátiras, ficou conhecido como “Boca do Inferno”.
Veja exemplos analisados de poemas.
Poesia lírica
Ofendi-vos, Meu Deus, bem é verdade;
É verdade, meu Deus, que hei delinquido,
Delinquido vos tenho, e ofendido,
Ofendido vos tem minha maldade.
Maldade, que encaminha à vaidade,
Vaidade, que todo me há vencido;
Vencido quero ver-me, e arrependido,
Arrependido a tanta enormidade.
Arrependido estou de coração,
De coração vos busco, dai-me abraços,
Abraços, que me rendem vossa luz.
Luz, que claro me mostra a salvação,
A salvação pretendo em tais abraços,
Misericórdia, Amor, Jesus, Jesus.
Nesse poema, o eu lírico dirige-se a Deus para se confessar. Menciona a maldade com que o ofendeu e demonstra seu desejo de ser vencido por Cristo.
Dentre as figuras de linguagem em destaque, observamos a antítese (entre arrependido e ofendido) e a anadiplose, figura pouco conhecida e que funciona desta forma: uma palavra do final de um verso é repetida no início do próximo verso.
Por exemplo: a palavra verdade finaliza o primeiro verso e começa o segundo. Esse recurso é importante para o realce de ideias, como o sentimento de angústia do eu lírico.
Poesia satírica
A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana e vinha;
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.
Em cada porta um bem frequente olheiro,
Que a vida do vizinho e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,
Para o levar à praça e ao terreiro.
Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos sob os pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia.
Estupendas usuras nos mercados,
Todos os que não furtam muito pobres:
E eis aqui a cidade da Bahia.
Por sua vez, o poema satírico exemplificado contém uma crítica aos governantes. Nota-se o uso de várias figuras de linguagem, como a metonímia (cabana, vinha e cozinha), ironia (grande conselheiro) e gradação (Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha), que ajudam na expressividade do texto.
Os principais artistas plásticos barrocos na Europa são Caravaggio, Rubens, Rembrandt e Velázquez. Em Portugal, destaca-se a pintora Josefa de Óbidos.
Uma curiosidade sobre a obra de Michelangelo Merisi da Caravaggio (1571-1610), o grande pintor italiano do Barroco: sua fama deve-se em grande parte ao realismo da sua obra. O tratamento que ele deu às figuras religiosas, por exemplo, tornou-as mais reais, por vezes enrugadas e mal trajadas.
Antes do Barroco, as figuras bíblicas eram retratadas de forma idealizada e bela. Assim, as pessoas da época ficaram impactadas com a obra.
Existe, ainda, notória produção na arquitetura, na música, no teatro, entre outras expressões. Na música, ganham realce as composições de Vivaldi, Johann Sebastian Bach e Georg Friedrich Haendel.
No Brasil, a arte barroca se destacou na segunda metade do século XVIII, com o ciclo do ouro. Os trabalhos mais importantes são os de Aleijadinho, Manuel da Costa Ataíde e as composições sacras de Lobo de Mesquita e Marcos Coelho.
A arte barroca no Brasil tem forte influência do rococó europeu.
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Referências
BOSI, Alfredo. História concisa da Literatura Brasileira. 50 ed. São Paulo: Cultrix, 2015.
CEREJA, W. R; MAGALHÃES, T. C. Português: Linguagens. 11 ed. São Paulo: Saraiva, 2016.