A carta aberta é um texto argumentativo em que uma pessoa ou grupo se corresponde publicamente com um interlocutor para discutir ou resolver um problema relevante na sociedade.
Enquanto gênero textual, a carta aberta partilha a estrutura de outros tipos de carta, como remetente e destinatário, cabeçalho, vocativo, despedida e assinatura. O que a diferencia dos outros tipos, como a carta argumentativa, é o seu caráter público e a exigência de um título.
Ela costuma ser veiculada em jornais, sites, revistas, blogs e redes sociais, visando obter apoio e provocar reflexão tanto do destinatário quanto do público em geral.
Dirigida frequentemente a autoridades, órgãos oficiais e instituições, a carta aberta aborda temas diversos como direitos humanos, política, educação e meio ambiente. É uma ferramenta importante para a resolução de conflitos sociais e para dar visibilidade a problemas enfrentados pelos cidadãos no dia a dia.
Os elementos da estrutura de uma carta aberta seguem um padrão. Dependendo do suporte, o local e a data são opcionais.
Além de conhecer a estrutura da carta aberta, veja os passos fundamentais para elaborar bem o seu texto.
1. Defina o tema, o destinatário e o objetivo da carta.
2. Escolha o meio de comunicação para envio.
3. Siga a estrutura da carta aberta: cabeçalho (local e data), título, vocativo, introdução, desenvolvimento, conclusão e assinatura.
4. Fundamente-se em argumentos claros e objetivos para defender seu ponto de vista, incluindo fatos, opiniões de especialistas e exemplos do dia a dia.
5. Adapte a linguagem ao público-alvo, mantendo a norma culta do português.
6. Mantenha um tom respeitoso para preservar sua credibilidade e evite polêmicas.
7. Escolha um título em relação ao tema tratado.
8. Revise o texto para garantir sua clareza.
9. Verifique o endereço de envio (físico ou eletrônico).
A base da carta aberta é a argumentação junto ao destinatário e ao público amplo. Por isso, apresentamos exemplos fictícios de estratégias argumentativas que podem ser usadas no desenvolvimento do seu texto.
Mas lembre-se: organize o texto de forma que fique claro para quem você está escrevendo. Não se limite a apresentar argumentos; lembre-se de que a carta é endereçada a uma pessoa ou grupo específico.
Desenvolvimento por enumeração
Lista – e discute brevemente – os principais pontos para defender um tema.
Exemplo: "A desigualdade educacional persiste em várias regiões, levando a um círculo vicioso de desvantagens. Por exemplo, as escolas em áreas rurais frequentemente carecem de infraestrutura adequada e materiais didáticos, e a falta de acesso a tecnologias modernas limita as oportunidades de aprendizado."
Desenvolvimento por confronto
Apresenta as diferenças existentes entre dois elementos, com o objetivo de defender um deles.
Exemplo: "Enquanto em países com alta qualidade de vida, como na Escandinávia, a educação é amplamente acessível e igualitária, em nações em desenvolvimento, as disparidades no acesso à educação superior criam barreiras significativas para o avanço profissional e pessoal dos indivíduos."
Desenvolvimento por comparação
Introduz elementos semelhantes, com o objetivo de reforçar uma ideia por meio do realce das semelhanças que há entre eles.
Exemplo: "O impacto da mudança climática nas pequenas comunidades pesqueiras é comparável ao das grandes secas que afetam regiões agrícolas. Em ambos os casos, os habitantes enfrentam uma crise de recursos que compromete suas economias e modos de vida tradicionais."
Desenvolvimento por exemplificação
Dá exemplos concretos daquilo que se pretende defender.
Exemplo: "Em várias partes do mundo, iniciativas de jardinagem urbana têm transformado áreas degradadas em espaços verdes produtivos. Em cidades como Detroit e São Francisco, projetos comunitários têm mostrado que é possível criar hortas e jardins em terrenos abandonados, promovendo a segurança alimentar e a coesão social."
Desenvolvimento por causa e consequência
Discute detalhadamente as razões e os desdobramentos de um problema. Normalmente, dedica-se um parágrafo à causa e outro à consequência.
Exemplo: "A falta de investimento em saúde mental nas escolas leva a um aumento no número de casos de ansiedade e depressão entre os estudantes. Isso não só afeta o bem-estar dos alunos, como também pode comprometer seu desempenho acadêmico e suas relações interpessoais."
Desenvolvimento por dados estatísticos
Mostra dados percentuais ou informações numéricas para reforçar a ideia que se pretende defender.
Exemplo: "Recentemente, uma pesquisa revelou que 45% das empresas de tecnologia estão enfrentando uma escassez de talentos devido à falta de formação técnica especializada, evidenciando a necessidade urgente de atualização nos currículos acadêmicos."
Desenvolvimento por argumento de autoridade
Cita a fala de especialistas no assunto para defender um ponto de vista.
Exemplo: "De acordo com o professor de sociologia Roberto Silva, 'A desigualdade no acesso à internet não só limita oportunidades educacionais, mas também exacerba as desigualdades econômicas existentes, criando um ciclo vicioso de exclusão digital e social.”
A carta aberta a seguir foi elaborada pela Comissão Nacional dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (CNODS) e é dirigida a toda a sociedade brasileira.
O texto defende um pacto nacional por um modelo de desenvolvimento sustentável, justo e inclusivo, urgente. Segundo a carta, a sustentabilidade não é uma pauta para o futuro: devemos alcançá-la agora, com base na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU).
CARTA ABERTA À SOCIEDADE BRASILEIRA
Pacto nacional por um modelo de desenvolvimento sustentável, justo e inclusivo, urgente
Nós, integrantes da Comissão Nacional para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (CNODS), colegiado paritário, composto por representantes da sociedade civil, representantes dos governos federal e subnacionais, nos dirigimos à sociedade brasileira com convicção de que juntos podemos fortalecer nossa união, nossa democracia, combater nossas desigualdades e construir um Brasil sustentável, hoje.
Múltiplas são as crises planetárias que afligem a todas as pessoas, mas impactam de maneira desproporcional alguns grupos sociais específicos. A sustentabilidade não é uma pauta para o futuro: devemos alcançá-la agora! É urgente realizar a transição para um modelo de desenvolvimento sustentável, economicamente viável, socialmente justo e inclusivo e ambientalmente responsável.
Em 2015, a Organização das Nações Unidas (ONU) apresentou ao mundo a Agenda 2030, composta por 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). A Agenda é universal, portanto suprapartidária, e é uma orientadora das políticas públicas sociais, centrada na defesa da vida no planeta, na dignidade humana e na construção de uma sociedade pacífica.
Os compromissos assumidos perante a Agenda apenas serão alcançados coletivamente, se cada um de nós estiver comprometido com sua implementação nos territórios. [...]
O Brasil tem sido exemplo para o mundo: a Rio 92 e a Rio+20 marcaram o debate internacional sobre desenvolvimento sustentável. Nossas políticas públicas de combate à fome e de erradicação da pobreza inspiraram a Agenda 2030, mas ainda assim, experimentou-se retrocessos na maioria das metas.
[...] Este ano teremos eleições municipais, momento para pautarmos a Agenda 2030, sobretudo nas cidades e periferias, nos territórios de povos indígenas e comunidades tradicionais, nos assentamentos e territórios marginalizados.
Os prefeitos e as prefeitas, os vereadores e as vereadoras eleitos em 2024 conduzirão a Agenda em sua reta final; por isso é essencial que os gestores atuais preparem o caminho e que os novos estejam comprometidos com o alcance das metas da Agenda. As lideranças políticas e as organizações da sociedade devem se comprometer com o desenvolvimento sustentável em seus territórios, enquanto alternativa para a humanidade.
Por fim, conclamamos a toda sociedade brasileira a unir-se norteada pela Agenda 2030 e seus ODS, para a consolidação de um “Pacto nacional por um modelo de desenvolvimento sustentável, justo e inclusivo, urgente”, assim cumprindo seu principal objetivo que é “Não Deixar Ninguém para Trás”.
(Publicada em 12/04/2024. Disponível em: https://www.gov.br/secretariageral/pt-br. Acesso em ago. 2024.)
Veja também:
Referência:
OLIVEIRA, Neil Armstrong de; ZANUTTO, Flávia. O gênero carta aberta: da interlocução marcada à interlocução esperada. In: Gêneros textuais em contexto de vestibular. In: J. Antonio & P. Navarro (Orgs.). Gêneros textuais em contextos de vestibular. Maringá: Eduem – UEM, 2017.