Ironia e sarcasmo são duas figuras de linguagem relacionadas, mas não iguais. Nos dois casos, a intenção é criticar algo ou alguém de forma engraçada, usando palavras que não sugerem essa crítica. A diferença principal entre elas é que o sarcasmo é maldoso, tem a intenção de ofender. Veja a diferença:
Na tira, Garfield é irônico, porque ele critica o diálogo vazio dos personagens usando uma expressão que parece um elogio. Ele não ataca nenhum dos personagens e não demonstra intenção de magoá-los.
Exemplo de ironia. Créditos: Jim Davis
Nesta outra tira, Dona Anésia é sarcástica quando pergunta se a personagem “descobriu isto sozinha ou teve que pesquisar no Google”. Sua intenção é ser grosseira e indicar que o comentário é óbvio.
Exemplo de sarcasmo. Créditos: Will Leite
A ironia é uma figura de linguagem que consiste em dizer o contrário do que se pretende, com o objetivo de ser engraçado ou crítico. Por isso, entender a ironia depende também de entender o contexto em que foi dita ou escrita.
Por exemplo, se alguém diz “a comida está boa”, sem nenhuma outra informação, entende-se que realmente está saborosa. Se, por outro lado, sabe-se que a comida estava salgada ou que a pessoa não gosta daquele prato (ou seja, apresenta-se o contexto da frase), percebe-se que foi irônica.
A ironia se encaixa no grupo das figuras de linguagem chamado de figuras de pensamento, porque tem o objetivo de enfatizar uma ideia, tornando-a mais expressiva. Também fazem parte deste grupo a antítese, o paradoxo, a apóstrofe, a personificação, o eufemismo, a gradação e a hipérbole.
A palavra ironia vem do grego e significa “ação de interrogar fingindo ignorância; dissimulação”. Essa palavra se fixou no latim, e desde o século XV apresenta o significado conhecido hoje.
Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos. (Machado de Assis)
No trecho, a ironia acontece no uso da palavra “amou”, já que, para o narrador, Marcela só se interessava pelo dinheiro que o rapaz gastava com ela.
Quanto moço elegante e perfumado
Que anda, imponente, de automóvel... fiado,
Porque lhe faltam níqueis para o bonde! (Manuel Bastos Tigre)
No trecho, o rapaz é descrito como rico e elegante, mas não tem dinheiro nem para pagar a passagem do bonde.
Antífrase: apresenta ideias que indicam tristeza e pesar ou que se opõem.
Moça linda, bem-tratada,
três séculos de família,
burra como uma porta,
um amor. (Mário de Andrade)
No trecho, opõe-se a aparência da moça (“linda e bem-tratada”) à sua inteligência (“burra como uma porta”). A conclusão também é irônica, já que o narrador atribui à imagem de uma mulher bonita e pouco inteligente uma conotação positiva ("um amor").
Parêmia: repetição de um provérbio ou frase muito conhecida com tom debochado.
Me pediram para ter paciência
Falhei
Gritaram cresça e apareça! (Renato Russo/Marcelo Bonfá)
No trecho, usa-se a expressão popular “cresça e apareça” para ridicularizar a situação do personagem.
A ironia dramática consiste em apresentar uma incoerência proposital entre uma situação e as falas ou atos que a acompanham. É um recurso de roteiro muito utilizado, no qual o público tem conhecimento de uma situação, mas os personagens, não.
Por exemplo, em um filme de terror ou de suspense, o público sabe que o personagem não deve explorar sozinho um local escuro, pois poderá se machucar. O personagem desconhece essa informação, sai para explorar o local e acaba se machucando.
A palavra ironia é paroxítona, ou seja, tem o acento tônico na penúltima sílaba. Isso significa que a sílaba “ni” é pronunciada com mais força. A maioria das palavras do português é paroxítona, por isso não há acento gráfico nesta palavra.
Já irônico ou irônica são proparoxítonas, isto é, a sílaba mais forte é a antepenúltima: “rô”. Todas as proparoxítonas são acentuadas em português, por isso elas recebem acento gráfico.
O sarcasmo é um tipo de ironia, na qual obrigatoriamente há a intenção de ofender. Dessa forma, embora muitas vezes seja usado para promover humor, o sarcasmo pode ser entendido como uma forma agressiva de crítica.
Por exemplo, quando alguém usa a frase “toma aqui seu cérebro, você deixou cair” para responder a um comentário, nota-se que ela o considerou pouco inteligente e debochou dele. Isso provoca o riso dos demais, mas, provavelmente, o desconforto da pessoa criticada.
Assim como a ironia, o sarcasmo também precisa do contexto para ser compreendido. Embora normalmente seja usado de maneira negativa, em situações de muita intimidade pode ser uma brincadeira ou um elogio. No entanto, é importante se certificar de que ninguém se sinta ofendido.
Existem duas origens possíveis para a palavra sarcasmo. A primeira vem do sânscrito ou do antigo indiano, pela junção das palavras kshâra e kach, significando “riso amargo”. A segunda vem do grego sarkàzein que pode significar “morder os lábios” ou “arrancar a carne”. Em todos os sentidos, a ideia do sarcasmo se liga a um discurso de desprezo, de maneira a machucar ou insultar o interlocutor.
Não foram muitas as descobertas científicas feitas por pessoas que se divertem. (Sheldon Cooper - personagem da série The Big Bang Theory)
No trecho, o personagem critica o fato de as pessoas quererem diversão, reforçando a ideia de que somente o trabalho leva a novas descobertas.
Se Deus cura todas as doenças, a medicina é a ciência mais inútil que existe. (Dr. House - personagem da série House)
No trecho, o personagem reforça a importância da medicina, debochando da crença de um paciente.
Não, eu não odeio as pessoas. Só prefiro quando elas não estão por perto. (Charles Bukowski)
No trecho, o escritor Charles Bukowski mostra desprezo pelas pessoas, de forma bem-humorada.