A fábula é um texto narrativo, geralmente curto, que contém uma lição moral. Seus personagens costumam ser animais que agem como seres humanos, com suas qualidades, defeitos e sentimentos. A linguagem da fábula é simples, podendo ser escrita tanto em prosa (texto corrido) como em verso.
Os principais representantes desse gênero literário são Esopo, Fedro e La Fontaine. No Brasil, temos Monteiro Lobato. Histórias como “A Cigarra e a Formiga” e “O Lobo e o Cordeiro” são exemplos de fábulas muito conhecidas e transmitidas de geração em geração.
Com origem na tradição oral, as fábulas surgiram no Oriente por volta de 3000 a.C. A palavra fábula vem do latim “fabula, ae”, com o sentido de conversa, narração alegórica ou relato. Por alegoria se entende que a narrativa representa uma coisa para simbolizar outra ideia, por meio de uma comparação implícita.
O principal traço que diferencia a fábula de outros gêneros como o mito, o conto popular e a lenda é justamente o seu propósito educativo. Com forte presença na literatura infantil, as fábulas são um patrimônio artístico da humanidade.
Como recompensa por um serviço prestado, os homens pediram a Júpiter a eterna juventude, o que ele concedeu. Pegou na juventude, colocou-a em cima de um Burro e mandou que a levasse aos homens.
Indo o Burro no seu caminho, chega a um ribeiro com sede, onde estava uma Cobra que disse que não o deixaria beber daquela água se não lhe desse o que levava às costas. O Burro, que não sabia o valor do que transportava, deu-lhe a juventude a troco da água. E assim os homens continuaram a envelhecer, e as Cobras renovando-se a cada ano.
Moral: ignorar o valor do que possuímos nos expõe a sermos enganados facilmente.
(Fábula de Esopo)
Uma raposa estava com fome e viu um delicioso cacho de uvas pendurado numa parreira. Decidida, fez vários esforços para alcançá-la, mas não conseguiu cumprir a missão. Foi aí que, com ar de desdém, resolveu ir embora, afirmando: "Estão verdes".
Moral: quando não conseguimos algo, às vezes culpamos as circunstâncias em vez de aceitar que não conseguimos.
(Fábula de Esopo)
Enquanto dois touros furiosamente lutavam pela posse exclusiva de certa campina, as rãs novas, à beira do brejo, divertiram-se com a cena.
Um rã velha, porém, suspirou.
– Não se riam, que o fim da disputa vai ser doloroso para nós.
– Que tolice! – exclamaram as rãzinhas. – Você está caducando, rã velha!
A rã velha explicou-se:
– Brigam os touros. Um deles há de vencer e expulsar da pastagem o vencido. Que acontece? O animalão surrado vem meter-se aqui em nosso brejo e ai de nós!...
Assim foi. O touro mais forte, à força de marradas, encurralou no brejo o mais fraco, e as rãzinhas tiveram de dizer adeus ao sossego. Inquietas sempre, sempre atropeladas, raro era o dia em que não morria alguma sob os pés do bicharoco.
Moral: é sempre assim: brigam os grandes, pagam o pato os pequenos.
(Fábula de Monteiro Lobato)
A fábula deve apresentar uma narrativa breve, uma lição ou ensinamento e uma alegoria. Sua estrutura básica é composta de:
Como a fábula é um texto narrativo, ela apresenta personagem, tempo, espaço, narrador e ações.
Grande parte das fábulas traz dois personagens em diálogo. Algumas apresentam grupos de três a quatro personagens, em que um personagem se destaca em contraste com os demais.
Os personagens das fábulas podem ser tanto animais, como homens, plantas e seres inanimados. Trata-se de personagens planos, que não mudam ao longo da narrativa, porque a história é curta. Os personagens são apresentados rapidamente em um momento específico de sua existência.
Os animais são escolhidos com frequência porque suas características são facilmente assimiladas pelo leitor, não havendo necessidade de descrevê-los. Culturalmente, eles simbolizam diferentes características humanas. Veja os símbolos mais frequentes.
Animal | Símbolo |
---|---|
águia | força, sabedoria, inteligência |
boi | retidão, paciência, trabalho |
burro | estupidez, ingenuidade |
cabrito | agilidade |
cão | fidelidade |
castor | operosidade, engenhosidade |
cavalo | inteligência, fidelidade |
cigarra | cantoria, negligência |
cobra | periculosidade, maldade |
coelho | fecundidade |
cordeiro | ingenuidade, inocência |
crocodilo | falsidade |
formiga | operosidade |
galo | vigilância |
gato | agilidade |
gavião | avidez para se atirar sobre a presa |
gralha | facilidade para discursos, eloquência |
javali | ferocidade, força bruta |
leão | força, majestade, prepotência |
lebre | rapidez |
lobo | maldade, prepotência, ferocidade |
macaco | caretice, agilidade |
mosca | impertinência, imundície |
ovelha | bondade, paciência |
pavão | vaidade |
pomba | simplicidade, pureza |
raposa | astúcia, esperteza, inteligência |
tartaruga | persistência |
urubu | agouro |
vespa | ferocidade |
Fonte: PORTELLA, O. A fábula. UFPR. (Adaptado) |
O primeiro passo para escrever uma fábula é escolher a moral da história. A partir de então, basta seguir sua estrutura, apresentando a situação inicial, o conflito, o desfecho e a moral.
É importante lembrar que a fábula ensina uma lição sobre o comportamento humano usando alegorias. Em vez de criticar diretamente, faz isso de forma figurada, levando a uma profunda reflexão.
Por meio da conversa entre os personagens surgem os conflitos. Há quatro tipos de diálogo em uma fábula:
Saiba mais sobre os tipos de discurso.
A origem das fábulas é muito remota. Elas vieram da tradição oral, em que as histórias eram contadas e transmitidas ao longo das gerações. É difícil precisar o tempo exato em que as fábulas surgiram, mas foi por volta de 3000 a.C. com os povos do Oriente.
As fábulas clássicas são atribuídas ao grego Esopo (séc. VI a.C.), considerado o pai da fábula e o maior fabulista da Grécia antiga. Junto com ele, o romano Fedro (séc. I d.C.) também foi um grande divulgador do gênero.
Mais tarde, no Classicismo francês, La Fontaine (1621 – 1695) retomou o gênero. Ele adaptou as fábulas ao seu tempo, inovando no desenvolvimento da narrativa.
Os principais fabulistas no Brasil e no mundo são:
Pouco se sabe sobre sua vida, mas ele viveu na Grécia e teria sido escravo de um filósofo que, admirado com sua sabedoria, o libertou. Esopo, então, viajou pela Ásia e Egito divulgando suas histórias.
Exemplos de fábulas de Esopo: A Cigarra e a Formiga, A Raposa e o Corvo, A Lebre e a Tartaruga.
Poeta e ex-escravo, foi o responsável por introduzir a fábula em Roma. Encontrou no gênero uma forma de camuflar suas críticas ao governo opressor.
Poeta francês que está entre os mais lidos do século 17. Ele introduziu as fábulas modernas, dando mais destaque à narrativa do que ao aspecto educativo. Por isso, suas histórias são mais dinâmicas e vivas.
Foi um dos primeiros autores de literatura infantil na América Latina. Nascido em Taubaté, São Paulo, atuou também como tradutor, quadrinista, ilustrador e editor. Dentre suas variadas obras estão as fábulas adaptadas de Esopo e La Fontaine.
Foi um escritor, jornalista, desenhista e humorista nascido no Rio de Janeiro. Fez releituras inusitadas de fábulas clássicas, fugindo aos padrões do gênero.
Veja também: Conto: o que é, tipos, exemplos e elementos
Referência:
PORTELLA, Oswaldo O. A fábula. Artigo da Revista eletrônica - UFPR. Acesso em ago. 2024.