As figuras de linguagem são procedimentos criativos de comunicação que permitem o uso de palavras e expressões com sentido figurado. Conhecidas também como figuras de estilo, elas trazem mais expressividade para o texto. Veja um exemplo:
Amor é bicho instruído.
Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou. [...]
Daqui estou vendo o amor
irritado, desapontado [...]
(Carlos Drummond de Andrade)
Nesse famoso poema, destacamos duas figuras de estilo: a personificação, que retrata o amor com traços próprios do ser humano, e a metáfora, que representa o amor despencando da árvore, como um amor partido. Repare como essas figuras ampliaram o sentido do poema, por meio de uma linguagem não literal (conotativa).
Presentes no nosso dia a dia, as principais figuras de linguagem são: metáfora, comparação, metonímia, sinestesia, onomatopeia, antítese, paradoxo, eufemismo, hipérbole e personificação. Elas são próprias da fala, da escrita e de outras linguagens, como a visual.
A comparação é uma figura de linguagem que aproxima o sentido de duas palavras ou dois elementos com o uso de conectivos (como, tal qual, que nem etc.). Veja:
No primeiro quadrinho, o fim do namoro foi comparado a uma ferida. Note que essa comparação foi feita de forma explícita, pelo uso do conectivo como. Se tirássemos o conectivo, haveria uma comparação implícita:
O fim do namoro é uma ferida.
O novo exemplo passa a ser uma metáfora. Assim, a metáfora é uma comparação implícita, em que há uma transferência de sentido.
As metáforas podem assumir diferentes extensões, podendo ser curtas como uma palavra, longas como uma frase ou até mesmo se estender por um texto completo. Quando temos um texto inteiro representando uma metáfora, passamos a chamá-la de alegoria. É o caso das parábolas e fábulas.
A metonímia acontece quando uma palavra substitui outra, criando uma relação de interdependência entre elas.
Pro aluguel
Devolva o Neruda que você me tomou
E nunca leu [...](Chico Buarque)
O exemplo apresenta a utilização do autor (o poeta Pablo Neruda) pela obra. Já na perífrase, a situação é um pouco diferente. Ela ocorre quando há a troca de uma expressão por outra, indireta e com mais palavras:
A cidade que nunca dorme não faz jus a esse título.
Nesse caso, a expressão “cidade que nunca dorme” foi usada para se referir a Nova York.
Cabe ressaltar que outras relações de interdependência podem ser estabelecidas pela metonímia, como: marca/produto (adoro beber Nescafé pela manhã), continente/conteúdo (ela comeu um prato de arroz) etc.
Há catacrese quando usamos uma palavra ou expressão para representar algo que não tem um nome mais específico na língua.
O termo bracinho da tampinha é um exemplo de catacrese. Geralmente, a catacrese está relacionada a palavras e expressões de uso consagrado. Outros exemplos: manga da camisa, costas da cadeira, asa da xícara etc.
Na sinestesia, diferentes sentidos se misturam ou se relacionam. Ela ocorre quando palavras ou expressões evocam sensações que normalmente não estão diretamente relacionadas entre si.
O delírio do verbo estava no começo, lá onde a
criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos.(Manoel de Barros)
Observe que no segundo verso temos a associação da cor ao som, o que desperta uma experiência sensorial mais vívida e emocionante no leitor ou ouvinte. Outros exemplos são de sabores ligados a imagens, aromas conectados a emoções etc.
A onomatopeia é a representação de um som por uma palavra.
Muito presentes em quadrinhos, podemos ver dois exemplos de onomatopeia na tirinha: primm e pam.
Enquanto a aliteração é a repetição insistente de um som consonantal, a assonância é a de sons vocálicos.
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa(Cecília Meireles)
Nesse exemplo percebemos a repetição enfática do som de t (aliteração), bem como do som das vogais E e A (assonância). Esses recursos trazem musicalidade ao poema.
Já na paronomásia, palavras com sonoridades parecidas (mas significados diferentes) são utilizadas próximas uma da outra para gerar um jogo de palavras.
Venham ver como dão mel
as abelhas do céu(Vinicius de Moraes)
Muitos se confundem ao tentar diferenciar antítese de paradoxo.
Na antítese ocorre a aproximação de duas palavras opostas para se acentuar o contraste entre elas. Exemplo:
Com o passar dos anos, ele se mostrou lobo em pele de cordeiro.
Note que, nesse contexto, a oposição enfatiza um caráter falso. Já no paradoxo há a aproximação de ideias que não são compatíveis, ou seja, incoerentes:
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente [...](Luís de Camões)
Dessa forma, o paradoxo causa um estranhamento que confere uma maior profundidade ao significado.
O eufemismo é o uso de uma palavra ou expressão no lugar de outra para suavizar a mensagem que se deseja transmitir.
O estudante foi convidado a sair da escola.
Note que "convidado a sair” tem o sentido de ser expulso. Por sua vez, a hipérbole consiste no uso de exageros para enfatizar uma ideia.
Aqui temos um exagero, pois é impossível que uma criança coma um peixe desse tamanho.
A gradação é usada quando ideias são enumeradas de maneira crescente ou decrescente, ganhando mais intensidade.
[...] E num estalar de juntas que se soltam, de amarras que se desfazem, o guerreiro moveu-se, levantou a cabeça, ergueu o tronco, pôs-se de pé. [...]
(Marina Colasanti)
No exemplo, a sequência “moveu-se, levantou a cabeça, ergueu o tronco, pôs-se de pé” constitui uma gradação para mostrar a recuperação do guerreiro.
A prosopopeia ou personificação é uma figura que atribui características humanas a objetos inanimados, animais ou seres abstratos.
No texto publicitário temos a personificação da hortaliça, que resolve fugir da horta e levar alegria e sabor para a mesa de uma família.
A apóstrofe é o chamamento de alguém ou de algo personificado. Equivale, sintaticamente, ao vocativo.
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!(Fernando Pessoa)
Nesse exemplo, notamos a apóstrofe na expressão “Ó mar salgado”.
Por meio da ironia, o significado real de uma palavra ou expressão é expresso de forma oposta ou contraditória ao que é dito.
O último quadrinho contém uma ironia por mostrar o contrário da ideia afirmada no quadro anterior: "Ah, então está sendo ótimo!".
Chama-se elipse a omissão de um termo que pode ser recuperado pelo contexto.
Ao redor, bons pastos, boa gente, terra boa para se plantar.
(Guimarães Rosa)
No exemplo, houve a omissão do verbo haver (ao redor havia...).
Já o zeugma é um caso particular de elipse. Nele, a omissão é de um termo que já foi anteriormente mencionado:
A igreja era grande e pobre. Os altares, humildes.
(Carlos Drummond de Andrade)
A forma verbal “era” foi omitida na segunda frase, mas está explícita na primeira.
Percebemos o assíndeto na ausência estilística do conectivo de adição, elemento que liga palavras e orações.
[...] Vai, Anita. Olha, trabalha, estuda. Sofre. [...] Mas sofrer com alegria, com vontade. É o que faço. É o que desejo que faças. [...] e como quero que saibas, que as compensações chegam sempre. Existem sempre.
(Carta de Mário de Andrade para Anita Malfatti, 21 ago. 1923.)
O contrário acontece com o polissíndeto: há a repetição do conectivo coordenativo:
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!
(Olavo Bilac)
Identificar a anáfora é fácil. Ela consiste no uso de uma mesma palavra repetidamente no início de frases e versos.
Depois o areal extenso...
Depois o oceano de pó...
Depois no horizonte imenso
Desertos... desertos só...(Castro Alves)
Por sua vez, o pleonasmo (ou redundância) acontece quando se repetem ideias usando palavras extras ao transmitir uma mensagem. Em contextos literários, é uma repetição intencional, para tornar as palavras mais expressivas.
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto(Vinicius de Moraes)
Aqui há destaque para rir o riso e derramar o pranto.
Atenção! Se o pleonasmo não for usado intencionalmente, como nesse caso, passa a ser um vício de linguagem e deve ser evitado. Para saber mais, veja 8 pleonasmos que você tem de parar de dizer.
Quando um termo parece solto na oração, estamos diante de um anacoluto. Trata-se da quebra na estrutura sintática de uma frase. Para entender melhor, veja o exemplo.
Eu, porque sou mole, você fica abusando.
(Rubem Braga)
Já no hipérbato ocorre uma inversão brusca na ordem normal das palavras numa frase, como neste exemplo.
Mas, como o dele, batia
Dela o coração também(Manuel Bandeira)
Silepse é a concordância verbal ou nominal feita a partir da ideia, e não das regras da gramática normativa. Pode ocorrer silepse de gênero, número ou pessoa.
Agora eu era o rei
Era o bedel e era também juiz
E pela minha lei
A gente era obrigado a ser feliz(Chico Buarque)
Aqui há um exemplo de silepse de gênero: o termo a gente (feminino) não concorda com o termo obrigado (masculino).
As figuras de linguagem apresentadas podem ser classificadas em quatro tipos. No esquema a seguir, a função de cada tipo está descrita entre parêntesis.
Além de conhecer as figuras de linguagem, é importante saber que elas são procedimentos usados intencionalmente, com o objetivo de explorar diversos significados.
Aqui está o resumo das principais figuras de linguagem com seu conceito e um exemplo simples, para que você possa consolidar o seu aprendizado.
Coloque em prática os seus conhecimentos sobre figuras de linguagem. As respostas estão ao final dos exercícios.
a) Identifique uma figura de linguagem em cada texto.
b) As ideias veiculadas em cada texto apresentam semelhanças ou diferenças? Como as figuras de linguagem contribuem para a construção desse sentido?
A namorada
Havia um muro alto entre nossas casas.
Difícil de mandar recado para ela.
Não havia e-mail.
O pai era uma onça. [...]
O pai era uma onça. (v. 4)
Nesse verso, a palavra onça está empregada em um sentido que se define como:
a) enfático
b) antitético
c) metafórico
d) metonímico
“Elogio sincero é como sal em alimento,
Bajulação é como sujeira em ferida aberta.”
Nos versos acima destacados, observa-se o uso de uma figura de linguagem. Qual é a figura de linguagem utilizada?
a) metonímia
b) aliteração
c) metáfora
d) silepse
e) comparação
1. a) Metáfora e Paronomásia.
b) As ideias veiculadas em cada texto são diferentes. Enquanto no primeiro é construída uma imagem positiva da bebida, no segundo há uma crítica ao consumismo, observada pelo jogo de palavras (babe, caco, cloaca etc.).
2. Letra c
3. Letra e
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