A reportagem é um texto jornalístico que tem o objetivo de informar um tema relevante para a sociedade de forma aprofundada. Ela é veiculada em diversos meios de comunicação, como jornais e revistas (impressos ou digitais), sites da internet e na televisão. Os assuntos são variados e incluem temas sociais, políticos, científicos, ambientais, econômicos, entre outros.
Apesar de ter algumas semelhanças com a notícia, a reportagem não deve ser confundida com esse gênero textual. Enquanto a notícia é breve e informativa, a reportagem amplia e desdobra o assunto por meio de pesquisas, dados estatísticos e depoimentos, incluindo, às vezes, o ponto de vista do autor.
Sua estrutura é relativamente livre, contendo título, linha fina (subtítulo), lide e corpo do texto com dados que dão credibilidade às informações. Além disso, a reportagem tem como principais características ser um texto assinado e usar linguagem objetiva e simples, seguindo a norma culta.
A reportagem escrita apresenta tanto texto verbal como visual, trazendo dinamicidade na leitura e despertando o interesse do leitor para ler a matéria. Ela pode ser constituída de vários elementos, como fotos, ilustrações, gráficos, infográficos e exemplos históricos.
Como as reportagens oferecem informações aprofundadas, permitem ao leitor desenvolver uma opinião bem fundamentada sobre o tema abordado. Elas possuem as seguintes características:
A estrutura da reportagem é relativamente livre, variando de acordo com seu tipo. Entretanto, há algumas partes comuns nas reportagens escritas. São elas:
Quanto ao tipo, as reportagens podem ser classificadas em:
Para entender melhor o gênero textual, veja o exemplo comentado de uma premiada reportagem da Folha de São Paulo. A reportagem fez parte da série “Um mundo de muros – as barreiras que nos dividem”.
EXCLUÍDOS
À beira da estrada, a pobreza se esconde e o crime prospera
Milhões passam diante da Vila Esperança, seus desempregados e seu esgoto aberto, mas, graças à gestora da rodovia dos Imigrantes, não a veem
Duas vezes por semana, a dentista Mariana Salgado, 39, passa de carro ao lado do muro de concreto que foi construído na altura do quilômetro 58,5 da rodovia dos Imigrantes, em Cubatão (SP).
Quando ela está se aproximando, fica nervosa, acha que alguém vai aparecer de repente, com uma arma na mão. “Não faço a menor ideia do que tem atrás desse muro”, diz a dentista, que mora em Santos e atende em São Paulo às terças e quintas-feiras. “Só sei que duas amigas minhas foram assaltadas aí.”
Assim como Mariana, centenas de milhares de paulistas de classe média descem para o litoral pela Imigrantes, onde o pedágio é de R$ 25,60, e não sabem o que existe atrás daquele muro de 3 metros de altura, 25 centímetros de espessura e 1 quilômetro de extensão, construído pela Ecovias em maio de 2016.
O muro separa os turistas dos cerca de 25 mil habitantes de Vila Esperança, favela onde 12% da população não têm nenhuma renda, 14% ganham até um salário mínimo, e todos despejam seu esgoto no rio que deságua nas praias frequentadas pelos paulistas de classe média.
Só nesse trecho de um quilômetro, houve sete assaltos em 2015, um assalto e um latrocínio em 2016 e um assalto e uma tentativa em 2017, diz a polícia rodoviária.
Segundo a Ecovias, o objetivo do muro é “melhorar as condições de segurança pública da rodovia”.
O trecho também recebeu reforço na iluminação, e foram instaladas novas câmeras para utilização pela polícia. A favela é controlada pelo tráfico de drogas.
O murou pegou os moradores de Vila Esperança de surpresa. De um dia para o outro, começou a construção. Ninguém avisou.
“Esse muro aí, é para proteger os turistas, né? Mas e a gente? Era por lá que a gente passava para vender na pista”, diz a potiguar Luzia Gonçalves da Silva, 54. Para ela, a barreira só atrapalhou. [...][...] Sebastião Ribeiro, chamado de Zumbi, batizou de “muro da vergonha” a barreira de concreto construída pela Ecovias. “Quando não sabem o que fazer, constroem um muro e acham que resolveram o problema”, diz.
“São mais de 20 mil moradores pagando pelo que uns poucos fizeram.” [...]
Segundo a Artesp, agência regulatória de transporte do Estado, a construção do muro não exigia licença ambiental, portanto não houve medidas de compensação.
Isso não amansa os críticos. “Em pleno século 21, construíram um muro de apartheid para isolar os pobres”, diz o prefeito de Cubatão, Ademário Oliveira.
“Deviam ter investido o dinheiro em moradia, água e saneamento na comunidade.” A Ecovias gastou R$ 14,4 milhões com o muro e as outras medidas de segurança. [...]
No lado pobre do muro, oportunidade é coisa rara.
Texto: Patricia Campos Mello. Imagens: Lalo de Almeida. Publicada em 24 jul. 2017.
No exemplo acima, a reportagem aborda a segregação social e espacial simbolizada pelo muro, criticando a resposta simplista à violência na região. O título já evidencia isso, buscando despertar empatia e indignação no leitor.
Em conjunto com o título, as imagens e os gráficos são usados para incentivar o leitor a ler todo o texto. Além disso, os recursos visuais ajudam a contextualizar os dados, facilitando sua compreensão.
O principal aspecto que difere esses gêneros textuais é que a reportagem vai além de relatar um fato. Ela aprofunda o tema, oferecendo mais detalhes e contexto por meio de pesquisas, entrevistas com especialistas, entre outros recursos.
Assim, a reportagem requer do jornalista mais tempo e esforço do que em uma notícia comum. Ela não segue necessariamente o formato tradicional da pirâmide invertida, podendo ser organizada de várias formas.
Além disso, conta uma história com o máximo de informações e descrições possíveis, incluindo aspectos específicos do lugar onde a história ocorre. Segundo Anabela Gradim, doutora em Ciências da Comunicação, a reportagem procura “levar os leitores o mais próximo possível do acontecimento, como se eles próprios o pudessem estar também a viver”.
Confira os passos básicos para a redação de uma reportagem.
Defina um tema interessante para seu público.
Colete dados de fontes confiáveis, incluindo entrevistas, estatísticas e imagens. Verifique todas as informações para garantir sua precisão.
Separe as informações mais importantes e organize-as de forma lógica. Comece com os dados mais relevantes para capturar o interesse do leitor.
Use uma linguagem formal, mas acessível ao seu público-alvo. Mantenha o texto fluido e fácil de entender. Para isso, evite parágrafos longos e lembre-se de responder às perguntas do lide. De acordo com o Manual de Redação da Folha de São Paulo:
O caráter condutor do lide se aplica para quem lê e para quem escreve. Se ao produzir um texto você não avança, fica preso nos primeiros parágrafos, é muito provável que o problema esteja no lide – ele o conduziu a um caminho errado de estrutura de texto. Você não consegue mais escrever. O leitor, possivelmente, não conseguirá mais ler. Nesses casos, o melhor é refazer o lide.
Inclua diferentes pontos de vista para enriquecer sua reportagem.
Faça um título que seja chamativo e reflita o conteúdo da reportagem. Ele deve despertar curiosidade e resumir o tema principal.
Revise o texto para corrigir erros e ajustar a estrutura. Certifique-se de que imagens e outros recursos complementam bem o texto e não foram inseridos apenas como “enfeite”. Também observe sua distribuição na página.
Referências:
COSTA, Sérgio Roberto. Dicionário de Gêneros Textuais. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.
GRADIM, Anabela. Manual de Jornalismo. Estudos em Comunicação. Universidade da Beira Interior, 2000.