Gramática é um conjunto de regras que podem ser observadas em uma língua. Essas regras se referem tanto à estrutura da língua quanto ao seu funcionamento, podendo ser divididas em três áreas principais: fonética e fonologia, morfologia e sintaxe.
Quando pensamos em uma gramática, geralmente damos ênfase à gramática normativa, que contém regras para o uso da norma culta. Entretanto, há vários tipos de gramática, com diferentes objetivos. Os tipos mais conhecidos são: gramática normativa, gramática descritiva, gramática comparativa e gramática histórica.
A gramática normativa é a que apresenta um conjunto de normas a serem seguidas no uso da língua, seja na fala ou na escrita. Seu foco são as regras baseadas no que considera como “português correto”, pautado em uma tradição gramatical.
Gramáticas normativas buscam seus modelos a partir da escrita de autores consagrados. Elas têm como objetivo o domínio da norma culta (variedade de prestígio) ou da norma-padrão (modelo).
Veja um exemplo do que você pode encontrar em uma gramática normativa:
Na fala [...] familiar do Brasil é muito frequente o uso do pronome ele(s), ela (s) como objeto direto em frases do tipo:
Vi ele. Encontrei ela.
Embora esta construção tenha raízes antigas no idioma, pois se documenta em escritores portugueses dos séculos XIII e XIV, deve ser hoje evitada.
(CUNHA & CINTRA, 2017. p. 302.)
É importante destacar que a norma culta é adotada como um modelo a ser seguido em contextos de uso formal. Entretanto, as demais variedades linguísticas fazem da língua uma fonte rica e criativa de expressão. Usamos variedades linguísticas diferentes em contextos diferentes.
A gramática descritiva propõe uma descrição ou explicação da língua como ela é falada. Ela procura analisar quais são as regras ou regularidades da língua que fazem com que as pessoas se comuniquem.
Aqui o foco não é a norma, mas as regras que são naturalmente seguidas pelas pessoas. A língua é vista como um sistema organizado em unidades e princípios.
Veja um exemplo do que você pode encontrar em uma gramática descritiva:
[...] o sujeito, como sabemos, pode ser retomado por pronome em caso reto: eu, por exemplo, e não me ou mim. Desse ponto de vista, também [o termo “eu”] que acompanha o gerúndio parece ser um sujeito:
Eu chegando, a farra vai começar.
Por essas razões, sugiro que [...] “eu” seja analisado como sujeito. Isso naturalmente complicará a conceituação de sujeito, já que não se poderá dizer simplesmente que se trata do termo que está em relação de concordância com o verbo [...].
(PERINI, 2005, p. 79.)
A gramática comparativa tem como foco a comparação de diferentes línguas de uma mesma família.
De acordo com a Enciclopédia das Línguas no Brasil, da Unicamp, a gramática comparativa busca encontrar semelhanças entre línguas para determinar se elas são relacionadas.
Ao comparar o grego, latim e sânscrito, por exemplo, é possível reconstruir a língua indo-europeia, mostrando que essas três línguas têm uma origem comum.
As gramáticas comparativas também são muito úteis no ensino e aprendizado de línguas estrangeiras.
Veja um exemplo do que você pode encontrar em uma gramática comparativa:
Já vimos que nossas quatro línguas [português, espanhol, italiano e francês] têm vocabulários muito semelhantes. Tais semelhanças são evidentes: cantar – cantare – chanter; mão – mano – main; inteligente – intelligente – intelligent. As regras sintáticas que determinam as condições de emprego das palavras são, igualmente, semelhantes. Mas há, às vezes, diferenças. [...].
(AZEREDO et al. Gramática Comparativa Houaiss, 2011.)
A gramática histórica estuda como uma língua muda ao longo do tempo, em uma perspectiva diacrônica (evolução histórica). Ela também pode estudar a origem e a evolução de um grupo de línguas.
Veja um exemplo do que você pode encontrar em uma gramática histórica:
Os termos bilhão, trilhão e outros nomes de números em -ão acima de milhão vieram modernamente do estrangeiro, graças ao estudo da aritmética pelos compêndios franceses. O próprio milhão, usado há bastantes séculos, nem por isso deixa de ser palavra importada. Em português antigo a unidade de ordem superior às centenas de milhares chamava-se conto [...].
(M. Said Ali, 1964, p. 87.)
A gramática é dividida em três áreas principais: fonética e fonologia, morfologia e sintaxe.
A classificação convencional ainda abrange a Semântica, Pragmática, Etimologia, Lexicologia, Estilística e Literatura.
Os primeiros gramáticos a fazerem descrições da língua foram os hindus. Panini (V ou IV a. C.) é o mais conhecido deles. Ele chegou a produzir um conhecimento aprofundado do Sânscrito, apresentando, por exemplo, a descrição dos sons dessa língua, bem como a representação das sílabas.
A iniciativa partiu de um foco religioso na época, pois o Sânscrito era considerado uma língua sagrada e sua pronúncia devia ser rigorosamente seguida nos rituais religiosos.
Outros estudiosos e gramáticos que tiveram suma importância na linguística foram os gregos. Platão (428 - 348 a. C.) e Aristóteles (384 - 322 a. C.) desenvolveram reflexões filosóficas da linguagem, e, mais tarde, Dionísio de Trácia (170-90 a. C.) elaborou a primeira gramática grega.
As obras gregas influenciaram os latinos e, consequentemente, todo o ocidente europeu. Em Portugal, as primeiras gramáticas da língua portuguesa vieram por meio de Fernão de Oliveira, em 1536, e João de Barros, em 1540.
A partir do Renascimento (século XV), o estudo das línguas particulares começou a se desenvolver de forma mais sistemática, sendo que outras gramáticas começaram a surgir.
Referências
MATEUS, M. H; VILLALVA, A. O essencial sobre linguística. Lisboa: Caminho, 2006.
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. São Paulo: Mercado das Letras: Associação de Leitura do Brasil, 2002.