Conheça os 12 maiores escritores brasileiros e suas obras imperdíveis

Louise Oliveira
Louise Oliveira
Professora de Português

Selecionamos 12 dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos. De clássicos a contemporâneos, esses autores são leitura obrigatória. Confira suas biografias, principais obras e citações marcantes!

Guimarães Rosa (1908 – 1967)

Capas de livros de Guimarães Rosa: “O melhor de João Guimarães Rosa” e “Grande sertão: veredas”.

João Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo, Minas Gerais. Foi o maior escritor brasileiro do século XX, além de médico e diplomata. Criador de palavras, revolucionou a ficção regionalista.

Em sua carreira diplomática, conheceu Aracy de Carvalho, sua segunda esposa, homenageada no Museu do Holocausto por ajudar judeus a migrarem para o Brasil durante a Segunda Guerra Mundial.

Guimarães Rosa era conhecedor de muitas línguas, e escreveu romances, contos e novelas. Considerada universal, sua obra abrange as diversas nuances das preocupações humanas.

Principais obras: Grande sertão: veredas (1956), Sagarana (1946), Corpo de baile (1956), Primeiras estórias (1962).

Trecho do livro Grande sertão: veredas

Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura.

Machado de Assis (1839 – 1908)

Capas de livros de Machado de Assis: “Obras completas” e “Memórias Póstumas de Brás Cubas”.

Joaquim Maria Machado de Assis, nascido no Rio de Janeiro, era filho de um pintor mulato e de uma lavadeira de roupa açoriana. Autodidata, ele deixou um legado vasto, como peças teatrais, crônicas, contos, romances, além de trabalhos de crítica literária e teatral.

Ao lado de outros grandes nomes da literatura, foi fundador da Academia Brasileira de Letras (1897) e seu primeiro presidente.

Com narrativas sempre surpreendentes e críticas ácidas aos costumes da sociedade, Machado tem uma escrita única, e, apesar de formalmente ser considerado um escritor realista, seu trabalho transpõe as fronteiras das escolas literárias.

Suas obras refletem profundamente sobre os conflitos psicológicos, incluindo medos, inseguranças, desejos e sentimentos de culpa dos personagens. A linguagem usada pelo escritor é carregada de ironia e ambiguidade.

Principais obras: Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), Dom Casmurro (1899), Quincas Borba (1891) e O Alienista (1882).

Trecho do livro Memórias póstumas de Brás Cubas

Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se-me uma ideia no trapézio que eu tinha no cérebro. (...) Essa ideia era nada menos que a invenção de um medicamento sublime, um emplasto anti-hipocondríaco, destinado a aliviar a nossa melancólica humanidade.

Clarice Lispector (1920 – 1977)

Capas de livros de Clarice Lispector: biografia por Benjamin Moser e “A hora da estrela”.

Clarice Lispector nasceu na Ucrânia e possui origem judaica. Vivendo desde pequena no Brasil, formou-se em Direito, mas seguiu carreira no jornalismo e como tradutora. Sua produção literária inclui romances, contos, crônicas e literatura infantil.

Conhecida por seu estilo intimista e psicológico, Clarice explorou temas universais como solidão, distanciamento familiar, envelhecimento, amor e angústia. Ela foi uma das principais influências na Geração de 45, trazendo uma nova perspectiva à ficção brasileira.

Clarice foi uma escritora única, com uma visão que não se encaixava em nenhum movimento literário existente. Ao lado de Guimarães Rosa, é considerada a maior escritora brasileira da segunda metade do século XX. Recebeu diversos prêmios, como o Prêmio Graça Aranha e o Prêmio Jabuti.

Principais obras: Perto do coração selvagem (1943), A paixão segundo G.H. (1964), A hora da estrela (1977), Laços de família (1960) e Felicidade clandestina (1971).

Trecho do livro A hora da estrela

Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou.

Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987)

Considerado por alguns críticos o maior poeta brasileiro de todos os tempos, Drummond nasceu em Itabira, Minas Gerais. Além de poemas, escreveu contos, crônicas e literatura infantil. Em suas obras, aborda reflexões existenciais e temas que perpassam o cotidiano e questões sociais.

Principais obras: A rosa do povo (1945), Alguma poesia (1930), Sentimento do Mundo (1940), Claro Enigma (1951).

Trecho do poema As Sem-Razões do Amor

Eu te amo porque não amo
bastante ou de mais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

Graciliano Ramos (1892 – 1953)

Alagoano, nascido em Quebrângulo, Graciliano Ramos escreveu romances, contos e crônicas. É um dos maiores romancistas brasileiros. Sua infância foi marcada por desafios, especialmente devido ao relacionamento com seus pais, que eram rígidos.

Essa temática é abordada em suas obras, bem como a exploração social. Graciliano ainda atuou na política e em cargos ligados à educação.

Principais obras: Vidas Secas (1938), São Bernardo (1934), Angústia (1936), Infância (1945).

Trecho de Vidas Secas

Miudinhos, perdidos no deserto queimado, os fugitivos agarraram-se, somaram as suas desgraças e os seus pavores. O coração de Fabiano bateu junto do coração de sinhá Vitória, um abraço cansado aproximou os farrapos que os cobriam. Resistiram à fraqueza, afastaram-se envergonhados, sem ânimo de afrontar de novo a luz dura, receosos de perder a esperança que os alentava.

Cecília Meireles (1901 – 1964)

Cecília Meireles foi uma prestigiada poeta, escritora, professora e jornalista. Sua extensa obra abrange poemas, mas também literatura infantil, contos e crônicas.

Cecília fundou a primeira biblioteca infantil brasileira em 1934 e dedicou-se com empenho à docência. Sua escrita é intensa, com poemas marcados pela musicalidade.

Principais obras: Romanceiro da Inconfidência (1953), Viagem (1939), Vaga música (1942), Ou isto ou aquilo (1964), Espectros (1919).

Trecho do poema Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Manoel de Barros (1916 – 2014)

Capas dos livros de Manoel de Barros: “Poesia completa” e “Gramática expositiva do chão”.

Manoel Wenceslau Leite de Barros nasceu em Cuiabá, Mato Grosso. Conhecido como o “poeta da infância” e um dos maiores poetas brasileiros do século XX, Manoel de Barros conquistou a admiração de notáveis escritores como Carlos Drummond de Andrade, Antônio Houaiss e Valter Hugo Mãe.

Sua obra é marcada por uma linguagem única que transita do simples ao enigmático, repleta de sinestesias e imagens poéticas que evocam a natureza e a infância com uma profundidade ímpar. Poucos brincaram tanto com as palavras como esse incrível autor.

Principais obras: Gramática expositiva do chão (1966), O livro das ignorãças (1993), Livro sobre nada (1996).

Trecho do Livro das Ignorãças, poema VII

No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá
onde a criança diz: Eu escuto a cor dos
passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não
funciona para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um
verbo, ele delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta, que é a voz
de fazer nascimentos —
O verbo tem que pegar delírio.

Ferreira Gullar (1930 – 2016)

Nascido em São Luís do Maranhão, José Ribamar Ferreira, mais conhecido como Ferreira Gullar, é um grande poeta brasileiro. Com uma estética inovadora e transgressora, possui ampla produção literária e cultural.

Venceu o prêmio Camões em 2010, além de outras premiações importantes, como o Prêmio ABL de Literatura Infantil.

Principais obras: Poema Sujo (1976), Muitas vozes (1999), A luta corporal (1954), Na vertigem do dia (1980).

Trecho do Poema Sujo

Que importa um nome a esta hora do anoitecer em São Luís do
Maranhão à mesa do jantar sob uma luz de febre entre irmãos
e pais dentro que um enigma?
mas que importa um nome
debaixo deste teto de telhas encardidas vigas à mostra entre
cadeiras e mesa entre uma cristaleira e um armário diante de
garfos e facas e pratos louça que se quebraram já

Marina Colasanti (Asmara, 1937)

Marina Colasanti é uma escritora, artista plástica e jornalista ítalo-brasileira. Casada com o também escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna, a autora tem uma produção literária variada e premiada, voltada tanto para o público adulto como infantil. Escreveu contos, poemas, crônicas e ensaios.

Principais obras: Uma ideia toda azul (1979), Entre a espada e a rosa (1986), Breve história de um pequeno amor (2013), Passageira em trânsito (2009).

Trecho de “Eu sei, mas não devia”

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. [...] A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

Luis Fernando Verissimo (Porto Alegre, 1936)

Luis Fernando Verissimo é escritor, cartunista, tradutor, publicitário e roteirista. Filho de Erico Verissimo, já viveu nos Estados Unidos na adolescência, onde aprendeu a tocar saxofone. Possui uma obra variada, com mais de 60 publicações, incluindo crônicas, contos, romances, cartuns e quadrinhos.

Tímido autodeclarado, já escreveu: “Quando falo em público, não sei quem sofre mais, se sou eu ou se é o público”. Dono de uma linguagem simples e bem elaborada, é muito observador e escreve de forma perspicaz sobre as pequenas coisas, além representar a realidade brasileira.

Sempre com bom humor, na hora de falar sobre sua inspiração para a escrita, é prático: “A minha musa inspiradora é o meu prazo de entrega”.

Principais obras: O analista de Bagé (1981), Ed Mort e outras histórias (1979), Comédias da vida privada (1994).

Trecho do livro Verissimas: frases, reflexões e sacadas sobre quase tudo

ABISMO: “Se o mundo está correndo para o abismo, chegue para o lado e deixe ele passar”.

AMEAÇA: “Não sofri incômodos maiores da censura, fora as crônicas que não podiam sair e tinham que ser substituídas em minutos, e a vez em que avisaram ao jornal que ʽesse Luis Carlos Verissimo está se excedendo. Fiquei tranquilo, em caso de prisão levariam o meu primo”.

Conceição Evaristo (Belo Horizonte, 1946)

Capas dos livros de Conceição Evaristo: biografia e “Ponciá Vicêncio”.

Conceição Evaristo é uma premiada escritora e poeta mineira. Possui doutorado em Literatura Comparada e é uma das mais influentes escritoras do movimento pós-modernista. Sua escrita é extremamente poética, marcada por questões étnico-raciais e da mulher.

Principais obras: Olhos D'Água (2014), Ponciá Vicêncio (2003), Becos da Memória (2006), Insubmissas Lágrimas de Mulheres (2011).

Trecho de Olhos D'Água (2014)

Se ao menos o medo me fizesse recuar, pelo contrário, avanço mais e mais na mesma proporção desse medo. É como se o medo fosse uma coragem ao contrário.

Adélia Prado (Divinópolis, 1935)

Capas de livros de Adélia Prado: “Poesia reunida” e “Quando eu era pequena”.

Vencedora do Prêmio Camões 2024, Adélia Prado é a maior poeta viva do Brasil. Elogiada por Carlos Drummond de Andrade, a quem mostrou seu primeiro trabalho literário (Bagagem, de 1976), escreveu poemas, romances e contos.

Sua escrita se destaca por integrar o cotidiano e o transcendente de forma singular, empregando uma linguagem de extrema poesia.

Principais obras: O homem da mão seca (1994), O coração disparado (1978), Bagagem (1976) e Miserere (2013).

Trecho de Poesia Reunida, poema Janela

Janela, palavra linda.
Janela é o bater das asas da borboleta amarela.
Abre pra fora as duas folhas de madeira à-toa pintada,
janela jeca, de azul.
Eu pulo você pra dentro e pra fora, monto a cavalo em você,
meu pé esbarra no chão. Janela sobre o mundo aberta, por onde vi
o casamento da Anita esperando neném, a mãe
do Pedro Cisterna urinando na chuva, por onde vi
meu bem chegar de bicicleta e dizer a meu pai:
minhas intenções com sua filha são as melhores possíveis.
Ô janela com tramela, brincadeira de ladrão,
claraboia na minha alma,
olho no meu coração.

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Louise Oliveira
Louise Oliveira
Graduada em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é professora de Língua Portuguesa, autora de materiais didáticos e revisora de textos. Apaixonada pela escrita e pelo ensino de língua materna, produz conteúdos educacionais desde 2009 e carrega o propósito de levar educação de qualidade a todos.

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