21 palavras de origem indígena que usamos no dia a dia e você nem notou

Louise Oliveira
Louise Oliveira
Professora de Português

O Brasil é um país de muitas línguas, mas quantos realmente param para pensar nisso? Além do português, mais de 200 línguas indígenas são faladas no território brasileiro. Elas fazem parte da identidade nacional e contribuíram para o enriquecimento do vocabulário do português.

Todos os anos, o Dia dos Povos Indígenas é celebrado em duas datas: 19 de abril (nacional) e 9 de agosto (internacional). Descubra 21 palavras de origem indígena que usamos no cotidiano, e que revelam tradições, lendas e conexões profundas com a natureza.

Jaguar, a onça-pintada, na floresta amazônica

Jaguar

Com origem no tupi ya'gwara, é um sinônimo para onça-pintada.

Enquanto no português preferimos usar “onça”, outras línguas, como o inglês, adotam a forma preferencial “jaguar” para o animal.

Pirarucu

Vem do tupi, em que pi'ra significa "peixe" e uru'ku, "vermelho”.

Durante a reprodução, as escamas da cauda do pirarucu ficam avermelhadas, por isso ele recebeu esse nome.

Com o apelido de “Gigante da Amazônia”, é o maior peixe da região e um dos maiores peixes de água doce do mundo. De acordo com a Embrapa, já foram encontrados pirarucus de quase 3 metros de comprimento.

O peixe também é conhecido como o “bacalhau da Amazônia” na gastronomia e há até uma lenda sobre ele. Trata-se de um índio chamado Pirarucu, que, por sua maldade, foi transformado em peixe por Xandoré.

Peteca

Vem do tupi pe'teka, com o sentido de “bater com a palma da mão”.

A peteca já era usada pelos indígenas antes da colonização do Brasil.

Segundo a Confederação Brasileira de Peteca, o objeto “também faz parte do vocabulário dos povos indígenas Bororos como paopaó; entre os Parintins é conhecida como jitahy´gi; os Guaranis jogam a mangá; os povos Xavantes a nomeiam de Tobda´é e os Kaingangs a chamam de ñaña ou ñagna”.

Pororoca

Do tupi poro'roka, com o sentido de "estrondo" ou "barulho forte".

A pororoca é um fenômeno natural em que uma grande onda surge com violência em rios volumosos, como o rio Amazonas.

Beiju

Tem origem no tupi mbe'yu, com o sentido de “bolo de farinha de mandioca”.

É um alimento típico da culinária brasileira, especialmente consumido nas regiões Norte e Nordeste do país.

Açaí

Vem do tupi ïwasa'i, significando “fruto que chora”.

O açaí é um fruto considerado símbolo da cultura alimentar amazônica, principalmente do Pará.

Conta-se na lenda do açaí que uma tribo indígena enfrentava uma grave escassez de alimentos. Após Iaçã implorar a Tupã por uma solução, ela faleceu chorando, abraçada a uma palmeira. Dessa árvore surgiram os frutos de açaí, alimentando a tribo e garantindo sua sobrevivência.

Iguaçu

De origem tupi, com o significado de água, lago ou rio grande.

Localizado na fronteira entre o Paraná e a Argentina, o rio Iguaçu abriga as Cataratas do Iguaçu, uma das maiores do mundo em volume de água.

Jambu

Termo do tupi ya'mbï, sinônimo para agrião-do-pará.

O jambu é uma erva nativa do Brasil, conhecida pela sua característica peculiar de causar dormência na mucosa da boca quando a experimentamos em pratos culinários. Além do uso culinário, também é utilizada como analgésico.

Jenipapo

Vem do tupi yandï'pawa e é um sinônimo para jenipapeiro.

É um fruto utilizado há milênios pelos indígenas. Além do uso culinário, serve para a extração da tinta preta aplicada em pinturas corporais.

Jatobá

A palavra tem origem no tupi yeta'i + ïwa, com o sentido de "fruta".

O jatobá é uma árvore nativa da América Latina, comumente encontrada na região amazônica. Segundo a mitologia tupi, o herói civilizador Maíra emergiu de um jatobá e é creditado por ter presenteado os humanos com o fogo.

Tocaia

Do tupi to'kaya, com o sentido de emboscada ou “armadilha para caçar”.

Hoje usamos a palavra indicando a ação de se esconder para surpreender o inimigo.

Cunhã

Tem origem no tupi ku'ñã, com o sentido de mulher ou mulher indígena.

É um termo regional da Amazônia que indica uma mulher ou uma moça. Também pode indicar a esposa de um indígena, caboclo ou homem branco.

Guri

Guri ou guria vêm do tupi gwï'ri, que significa bagre marinho.

Além de nomear os peixes conhecidos como bagres marinhos, a palavra é usada principalmente no Sul do Brasil com o sentido de criança.

Juçara

Vem do tupi yï'sara, e se refere a uma palmeira que produz palmito e frutos parecidos com o açaí.

Esse significado também está relacionado com o nome feminino de origem indígena.

Cauã

O nome masculino Cauã tem origem no tupi wa'kawã, derivado do guarani acuã, significando “ligeiro”.

É associado ao gavião-cauã, também conhecido como acauã.

Guaraná

Vem do tupi wara'ná e é tradicionalmente cultivado pelos maués, uma etnia na região da Amazônia, onde o cultivo é ancestral.

Jararaca

Tem origem no tupi yara'raka e significa literalmente "cobra venenosa”.

Capivara

Vindo do tupi kapii'gwara, significa "comedor de capim".

A capivara, também conhecida como capincho e porco d'água, é o maior roedor do mundo, encontrado principalmente na América do Sul.

Maracujá

O nome da fruta vem do tupi moroku'ya, com sonoridade semelhante.

Paçoca

Vem do tupi pa'soka, significando “despedaçar com as mãos”.

Piaçaba

Tem origem no tupi pïa'sawa.

Piaçaba é o nome de um tipo de palmeira. Suas fibras são usadas para a produção de escovas e vassouras, por isso a vassoura também recebe esse nome.

Quantos indígenas vivem no país?

A população indígena representa 0,83% do total de habitantes do Brasil. São cerca de 1 milhão e 700 mil pessoas.

Pouco mais da metade vive na Amazônia Legal, região com nove estados brasileiros que pertencem à bacia Amazônica. Esses dados foram divulgados pelo Censo 2022 feito pelo IBGE.

Meninas indígenas abraçadas

Distribuição dos povos indígenas no Brasil

De acordo com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), a maioria dos indígenas brasileiros está concentrada no Norte e Nordeste.

As duas regiões totalizam 75,71% dessa população. O restante (24,29%) está distribuído nas outras regiões. Veja os números:

  • Norte: 753.357 indígenas (44,48%)
  • Nordeste: 528.800 indígenas (31,22%)
  • Centro-Oeste: 199.912 indígenas (11,80%)
  • Sudeste: 123.369 indígenas (7,28%)
  • Sul: 88.097 indígenas (5,20%)

Línguas indígenas faladas no território brasileiro

Os dados mais recentes divulgados pelo IBGE (Censo 2010) indicam que há 274 línguas indígenas faladas por 305 diferentes etnias.

No entanto, algumas línguas declaradas pelas pessoas que responderam ao Censo podem ser variações de uma mesma língua. Isso reduz o número total.

Essas línguas estão agrupadas em troncos linguísticos, ou seja, existem conjuntos de línguas que compartilham uma origem comum. Dentre eles, o tronco Tupi é o que abrange o maior número de línguas. Mas há outros, como o macro-jê e as famílias aruák, karíb e páno.

Enquanto existem línguas com mais de mil falantes, outras possuem menos de 50 e estão em risco de extinção.

Durante os 500 anos de colonização, aproximadamente mil línguas foram extintas em razão do desaparecimento dos seus falantes.

O Tupi abrange o maior número de línguas. Quando foi publicada a primeira gramática do Tupi?

A primeira gramática do Tupi foi publicada em 1595. Seu autor foi o Padre José de Anchieta, jesuíta que se destacou pela qualidade dos seus textos no primeiro século da colonização brasileira.

Além da gramática, escreveu diversos textos, como poemas e crônicas históricas.

Dia Nacional dos Povos Indígenas

No dia 19 de abril é celebrado o Dia dos Povos Indígenas. A data foi comemorada pela primeira vez em 1943, durante o governo Vargas. A celebração era conhecida como Dia do índio, mas seu nome foi mudado para Dia dos Povos Indígenas em 2022.

Dia Internacional dos Povos Indígenas do Mundo

De acordo com a Unesco, no dia 9 de agosto é comemorado o Dia Internacional dos Povos Indígenas para promover a conscientização sobre a importância dessas comunidades. A data foi estabelecida em dezembro de 1994 pela ONU.

As Nações Unidas estimam que há entre 370 e 500 milhões de indígenas em 90 países ao redor do mundo.

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Louise Oliveira
Louise Oliveira
Graduada em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é professora de Língua Portuguesa, autora de materiais didáticos e revisora de textos. Apaixonada pela escrita e pelo ensino de língua materna, produz conteúdos educacionais desde 2009 e carrega o propósito de levar educação de qualidade a todos.

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