A promoção da diversidade linguística é uma das diretrizes da ONU, o que inclui o combate ao preconceito linguístico. Mas o que é essa forma de discriminação? O preconceito linguístico é o ato de julgar e tratar uma pessoa ou um grupo de forma injusta pelo jeito como fala a sua língua.
Ele surge da crença equivocada de que algumas maneiras de falar são melhores do que outras, sem considerar as diversidades de usos que fazem da língua uma fonte rica e criativa de expressão.
Esses diferentes modos de falar são conhecidos como variedades linguísticas. Na sociedade, existem as variedades de prestígio (mais valorizadas, aceitas como cultas e consideradas próximas da norma-padrão) e as variedades estigmatizadas (desvalorizadas, rotuladas como feias e incultas).
Mas, para a linguística, não existe variedade superior à outra. Isso porque a variação é uma característica natural das línguas.
O preconceito linguístico ocorre em diferentes regiões do mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, uma pesquisa feita na Universidade de Yale revelou que muitas pessoas entrevistadas, ao ouvirem certas formas de se falar o inglês, julgaram os falantes como preguiçosos ou sem educação.
Outro grupo de pesquisadores da mesma universidade relatou casos em que o preconceito teve impacto material na vida das pessoas.
Houve situações em que depoimentos de testemunhas foram ignorados por juízes pelo fato de usarem dialetos não-padrão. Em outros casos, alunos foram rotulados como menos inteligentes na escola devido à sua maneira de falar.
Em um país onde as desigualdades sociais são tão marcadas, o preconceito linguístico ocorre de várias formas. Veja alguns exemplos.
Veja também exemplos de frases com preconceito linguístico.
Quando uma pessoa fala, ela não está apenas transmitindo uma informação. O modo de falar pode nos dizer muito sobre ela: em que região vive ou nasceu, seu nível de escolaridade e até sua classe social, dependendo do caso.
Assim, as causas do preconceito linguístico estão relacionadas ao preconceito social. Não é uma questão de gostar mais ou menos de um sotaque, ou preferir uma palavra do que outra. O que está em jogo são as atitudes que contribuem para a exclusão social.
O problema se agrava quando a opressão à vítima é constrangedora a ponto de inibi-la a falar e se expressar por meio da linguagem, tirando-lhe o seu direito de fala.
Em casos extremos, o preconceito linguístico pode resultar na negação de acesso à educação e oportunidades de trabalho, por exemplo. Há vítimas do preconceito que desenvolvem complexos de inferioridade e passam até a acreditar que são menos inteligentes e capazes.
Identificar o que é considerado preconceito linguístico e aprender a valorizar a diversidade linguística e cultural são alguns caminhos para combater esse tipo de preconceito.
Um dos objetivos do ensino de Língua Portuguesa na escola é ajudar os alunos a se tornarem cidadãos críticos e habilidosos em usar a língua no dia a dia.
Isso envolve dar aos estudantes a chance de refletirem sobre a língua e como podem usá-la de maneiras diferentes para se expressar.
Você já ouviu falar em expressões como língua morta e língua viva? Uma língua morta é aquela que deixou de ser falada e não é mais usada pelas pessoas para se comunicarem no dia a dia, como é o caso do latim. Já uma língua viva é aquela falada pelo povo.
O português é uma língua viva justamente porque os seus falantes a usam no cotidiano para interagirem uns com os outros e se expressarem de acordo com as suas necessidades.
Nessas interações entre si e entre diferentes povos é que está a riqueza da língua. Daí é que surgem as mudanças e a diversidade de falares. E isso é natural, pois a língua acompanha as transformações ocorridas na sociedade.
Uma gramática tradicional não abarca essa diversidade. Apenas tenta descrever as regras de uma variedade de prestígio, que ganhou o status de língua (mas que não é a língua, apenas uma pequena parte dela): a norma-padrão.
De acordo com o linguista Sírio Possenti:
Podemos pensar na variação como fonte de recursos alternativos: quanto mais numerosos forem, mais expressiva pode ser a linguagem humana. Numa língua uniforme talvez fosse possível pensar, dar ordens e instruções. Mas, e a poesia? E o humor? E como os falantes fariam para demonstrar atitudes diferentes? Teriam que avisar (dizer, por exemplo, "estou irritado", "estou à vontade", "vou tratá-lo formalmente")? (POSSENTI, p. 35.)
É evidente que a norma-padrão tem sua relevância no contexto em que estamos inseridos. Essa norma é adotada como um modelo a ser seguido em contextos de uso formal da língua.
Por isso, ao tratar da questão do ensino de gramática, linguistas fazem referência aos conceitos de adequação e inadequação linguística.
Pense na adequação linguística como se fosse ato de se vestir: você não vai à praia com roupas de festa, assim como não vai a uma festa de formatura com roupas casuais. O mesmo acontece com a língua: usamos variedades diferentes em contextos diferentes.
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Referências
BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 1999.
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. São Paulo: Mercado das Letras: Associação de Leitura do Brasil, 2002. p.35. (Coleção leituras no Brasil.)
YIDING HAO. YGDP members speak about linguistic prejudice. Disponível em: https://ling.yale.edu/news/ygdp-members-speak-about-linguistic-prejudice. Acesso em out. 2023.