Prefixo e sufixo: o que são, exemplos práticos e lista completa de termos

Louise Oliveira
Louise Oliveira
Professora de Português
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Prefixo e sufixo são elementos que formam palavras novas por derivação prefixal ou sufixal. Nesses processos, eles se prendem ao radical (núcleo) da palavra. Por isso, são chamados de afixos (afixo significa preso ou unido).

O prefixo é um afixo colocado antes do radical para modificar o sentido da palavra. Já o sufixo é um afixo que vem depois do radical, e pode alterar tanto o sentido como a classe gramatical. Observe nestes exemplos:

  • involuntário (in: prefixo com sentido de negação)
  • bisavô (bis: prefixo com sentido de repetição)
  • professor (or: sufixo com sentido de profissão)
  • entardecer (ecer: sufixo que forma verbos a partir de substantivos)
  • amarelado (ado: sufixo que forma adjetivos a partir de substantivos)

Conhecer os prefixos e sufixos nos ajuda a entender como novas palavras são criadas e evoluem ao longo do tempo. Mais do que isso: contribui para a leitura e a escrita de textos. Veja:

Exemplo 1

Primeiro quadrinho: Armandinho encontra sua amiga Etiene e pensa: “temos algo incomum”. Segundo quadrinho: Etiene senta-se com Armandinho para ler um livro. Eles estão cercados por animais. Armandinho pensa: “temos algo em comum”.

Nos quadrinhos, o autor brinca com a palavra "comum" para provocar um efeito de sentido. A adição do prefixo “in” a “comum” sugere que Armandinho e sua amiga mantêm uma grande amizade e amor por animais exóticos, algo incomum. Logo no segundo quadrinho, ambos revelam o hábito de leitura que têm em comum.

Exemplo 2

Primeiro quadrinho: O coletor de impostos cobra os impostos atrasados de Hagar. Este o desafia. Em seguida, o coletor apresenta-lhe um carrasco alto e forte, dizendo: “conheça o novo desreclamador do rei!”.

No segundo quadrinho, a palavra “desreclamador” (des + reclama + dor) foi inventada para trazer humor ao texto. Trata de uma forma branda de se referir ao carrasco forte e intimidador.

Exemplo 3

Moradores da Zona Sul de SP celebram retorno de energia com panelaço

[...] Na publicação, ele mesmo alude a uma final de Copa do Mundo, comparando panelaço pelo retorno da energia às comemorações futebolísticas. (Folha de São Paulo, 6 nov. 2023)

Panelaço (panela + aço) é um exemplo de palavra nova que foi incorporada aos dicionários. Sem ela, seria necessário dar uma explicação mais extensa no texto, como “protesto em que se batem panelas”. Logo, o neologismo contribui para a economia de palavras no texto, característica valorizada no jornalismo.

Lista de prefixos e sufixos

Confira a lista de prefixos e sufixos do português com seus significados e exemplos.

Prefixos

Na língua portuguesa, a maioria dos prefixos é de origem latina ou grega, já que o português deriva do latim (influenciado pelo grego).

Prefixos latinos

  • ABS, AB (afastamento): abstrair, abuso.
  • AD, A (aproximação, direção): adjunto, abraçar.
  • AMBI (duplicidade): ambidestro, ambiente.
  • ANTE (anterioridade, precedência): antebraço.
  • BIS, BI (repetição): bisavô, bimestre.
  • CIRCUM (movimento em torno): circunferência.
  • CIS (posição aquém): cisatlântico, cisplatino.
  • CONTRA (oposição): contrapeso, contraprova.
  • CUM, COM, CON (contiguidade, reunião): cúmplice, combater.
  • DE (movimento de cima para baixo): decrescer.
  • DES (ação contrária, negação): desfazer, desumano.
  • DIS, DI (separação, negação): discordar, dissociar.
  • EX, ES, E (movimento para fora, estado anterior): excêntrico, escorrer.
  • EXTRA (posição exterior, excesso): extraordinário, extraviar.
  • IN, EN (movimento para dentro; contrário de ex): induzir, enraizar.
  • IN, IR (negação, privação): incapaz, irrigar, iluminar.
  • INTER, ENTRE (posição no meio): internacional, entrelinha.
  • INTRA (posição dentro de alguma coisa): intravenoso.
  • INTRO (movimento para dentro): introduzir, introspectivo.
  • OB, O (posição em frente): obstáculo, ocorrer, omissão.
  • PER (movimento através): percorrer, permeável.
  • PRE (anterioridade): preceder, prefácio, prefixo.
  • PRO (movimento para a frente): progresso, prosseguir.
  • RE (movimento para trás; repetição): regredir; renascer.
  • RETRO (movimento mais para trás): retrocesso, retrospectivo.
  • SEMI (metade): semicírculo, semimorto.
  • SUPER, SOBRE (posição em cima): supérfluo, sobreviver.
  • SUPRA (posição em cima): supracitado.
  • SUB, SUS, SU, SOB, SO (movimento de baixo para cima; posição inferior):
    subsolo, suscitar, suceder, suspirar, soterrar.
  • TRANS, TRAS, TRES, TRA: (passar além de): transbordar, trasladar, tradição.
  • ULTRA (posição além do limite): ultraliberal, ultramarino, ultrapassar.
  • VICE (em lugar de): vice-cônsul, vice-diretor, vice-rei.

De acordo com o gramático José Carlos de Azeredo (Gramática Houaiss), os prefixos -a, -dis e -di geralmente pertencem ao vocabulário dos falantes mais escolarizados. Exemplos: amoral, dissociar, dilacerar.

Prefixos gregos

  • A, AN (privação, negação): anarquia, ateu.
  • AMPHÍ (de um e outro lado): anfíbio, anfiteatro.
  • ANÁ (inversão; repetição): analogia, anabatista.
  • ANTI (oposição): antagonista, antídoto, antítese.
  • APÓ (afastamento): apogeu, apóstolo.
  • ÁRKHI (posição em cima): arcanjo, arquipélago, arquiteto.
  • DIÁ (movimento através): diâmetro, diafragma.
  • DYS (dificuldade): dispneia, dispepsia, disenteria.
  • EK, EX (movimento para fora): eclipse, êxodo.
  • EN (posição interna, movimento para dentro): encéfalo, embrião.
  • EPI (posição superior; movimento para): epiderme, epístola.
  • EU (bom): eucaristia, eufemismo.
  • HÊMI (meio): hemiciclo, hemisfério.
  • HYPÉR (sobre, além de): hipérbole, hipertrofia.
  • HYPÓ (embaixo de): hipocrisia, hipótese.
  • KATÁ (movimento de cima para baixo): catacumba, catástrofe.
  • METÁ (mudança): metáfora, metamorfose, metonímia.
  • PARÁ (ao lado de): paradigma, paradoxo, paralelo, parasita.
  • PERÍ (em torno de): periferia, perífrase, peripécia.
  • PRÓ (posição em frente; movimento para a frente): problema, prognóstico.
  • SYN (simultaneidade, reunião): sinfonia, sílaba, simpatia, sintaxe.

Sufixos

Os sufixos são classificados em nominais, verbais e adverbiais.

  • Sufixo nominal: junta-se ao radical para originar um substantivo ou adjetivo. Exemplos: pedreiro, infelicidade, formação.
  • Sufixo verbal: junta-se ao radical para originar um verbo. Exemplos: esquiar, radiografar.
  • Sufixo adverbial: junta-se ao adjetivo para originar um advérbio. Exemplos: francamente, felizmente.

Sufixos nominais

Sufixos aumentativos

  • ÃO: caldeirão, paredão.
  • ALHÃO: grandalhão, vagalhão.
  • ARRÃO: gatarrão, homenzarrão.
  • EIRÃO: asneirão, toleirão.
  • AÇA: barbaça, barcaça.
  • AÇO: animalaço, ricaço.
  • ÁZIO: copázio, gatázio.
  • UÇA: dentuça, carduça.
  • ANZIL: corpanzil.
  • ARÉU: fogaréu, povaréu.
  • ARRA: bocarra, naviarra.
  • ORRA: beiçorra, cabeçorra.
  • ASTRO: medicastro, poetastro.
  • AZ: lobaz, roaz.
  • ALHAZ: facalhaz.
  • ARRAZ: pratarraz.

Sufixos diminutivos

  • INHO: toquinho.
  • ZINHO: vozinha, cãozinho, ruazinha.
  • INO, IM: pequenino, cravina, espadim.
  • ELHO: rapazelho.
  • EJO: lugarejo.
  • ILHO: tropilha.
  • ACHO: fogacho, riacho.
  • ICHO: governicho, barbicha.
  • UCHO: papelucho, casucha.
  • EBRE: casebre.
  • ECO: livreco, soneca.
  • ICO: simbólico.
  • ELA: ruela, viela.
  • ETE: artiguete, lembrete.
  • ETO: esboceto, saleta.
  • ITO: rapazito, casita.
  • OTE: velhote, velhota.
  • ISCO: chuvisco, talisca.
  • USCO: chamusco, velhusco.
  • OLA: fazendola, rapazola.

Diminutivos eruditos

Há diminutivos eruditos que vêm do latim e aparecem na língua literária e culta, principalmente em textos científicos. São estes sufixos: -ulo e -culo, com as variantes -áculo, -ículo, -úsculo e -únculo. Veja exemplos:

  • corpo - corpúsculo
  • febre - febrícula
  • globo - glóbulo
  • gota - gotícula
  • grão - grânulo
  • homem - homúnculo
  • modo - módulo
  • nó - nódulo
  • nota - nótula
  • obra - opúsculo
  • parte - partícula
  • pele - película
  • questão - questiúncula
  • raiz - radícula
  • rei - régulo
  • verme - vermículo
  • verso - versículo

Outros sufixos nominais

1. Sufixos que formam substantivos de outros substantivos:

  • ADA: boiada, papelada laranjada.
  • ADO: condado, doutorado.
  • ATO: carbonato, sulfeto.
  • AGEM: folhagem, aprendizagem.
  • AL: dedal, pombal.
  • ALHA: canalha, gentalha.
  • AMA: dinheirama.
  • AME: vasilhame, velame.
  • ARIA: carpintaria, livraria, gritaria.
  • ÁRIO: operário, vestiário.
  • EDO: olivedo, vinhedo, passaredo.
  • EIRO: barbeiro, copeira, cinzeiro.
  • IA: delegacia, cavalaria.
  • IO: gentio, mulherio.
  • ITE: bronquite, gastrite.
  • UGEM: ferrugem, penugem.
  • UME: cardume, negrume.

2. Sufixos que formam substantivos de adjetivos:

  • DADE: crueldade, dignidade.
  • (I)DÃO: gratidão, mansidão.
  • EZ: altivez, honradez.
  • EZA: beleza, riqueza.
  • IA: alegria, valentia.
  • ICE: tolice, velhice.
  • ÍCIE: calvície, imundície.
  • OR: alvor, amargor.
  • (I)TUDE: altitude, magnitude.
  • URA: alvura, doçura.

3. Sufixos que formam substantivos de substantivos e de adjetivos:

ISMO: heroísmo, neologismo, reumatismo.

4. Sufixos que formam substantivos e adjetivos de outros substantivos e adjetivos:

ISTA: pianista, nortista, paulista.

5. Sufixos que formam substantivos de verbos:

  • ANÇA, ÂNCIA: lembrança, tolerância.
  • ENÇA, ÊNCIA: descrença, concorrência.
  • ANTE: estudante, navegante.
  • ENTE, INTE: afluente, ouvinte.
  • DOR, TOR: regador, inspetor.
  • SOR: agressor, ascensor.
  • ÇÃO, SÃO: nomeação, extensão.
  • DOURO, TÓRIO: bebedouro, lavatório.
  • DURA, TURA: pintura, atadura.
  • SURA: clausura.
  • MENTO: acolhimento, ornamento.

6. Sufixos que formam adjetivos de substantivos:

  • ACO: maníaco, austríaco.
  • ADO: barbado, amarelado.
  • AICO: judaico, prosaico.
  • AL, AR: conjugal, escolar.
  • ANO: serrano, camoniano.
  • ÃO: alemão, beirão.
  • ÁRIO, EIRO: diário, caseiro, mineiro.
  • ENGO, ENHO: mulherengo, estremenho.
  • ENO: terreno, chileno.
  • ENSE, ÊS: forense, cortês.
  • ENTO: corpulento, barrento.
  • EO: róseo, férreo.
  • ESCO, ISCO: burlesco, mourisco.
  • ESTE, ESTRE: agreste, campestre.
  • EU: europeu, hebreu.
  • ÍCIO: alimentício, natalício.
  • ICO: geométrico, melancólico.
  • IL: febril, senhoril.
  • INO: londrino, cristalino.
  • ITA: israelita, ismaelita.
  • ONHO: enfadonho, risonho.
  • OSO: brioso, venenoso.
  • TICO: aromático, rústico.
  • UDO: pontudo, barbudo.

7. Sufixos que formam adjetivos de verbos:

  • ANTE: semelhante, tolerante.
  • ENTE, INTE: resistente, constituinte.
  • VEL: durável, louvável, punível, perecível.
  • IO, IVO: fugidio, tardio, afirmativo, pensativo.
  • IÇO, ÍCIO: movediço, quebradiço, acomodatício.
  • OURO, ÓRIO: duradouro, preparatório.

Sufixos verbais

  • EAR: cabecear, folhear.
  • EJAR: gotejar, velejar.
  • ENTAR: aformosentar, amolentar.
  • FICAR: clarificar, dignificar.
  • ICAR: bebericar, depenicar.
  • ILHAR: dedilhar, fervilhar.
  • INHAR: escrevinhar, cuspinhar.
  • ISCAR: chuviscar, lambiscar.
  • ITAR: dormitar, saltitar.
  • IZAR: civilizar, utilizar.

Sufixos adverbiais

Existe apenas um sufixo adverbial no português: -mente. Ele indica circunstâncias, principalmente de modo.

  • bondosa-mente
  • fraca-mente
  • nervosa-mente
  • pia-mente

Formação de palavras por meio de sufixos e prefixos

Os processos de formação de palavras por meio de prefixos e sufixos chamam-se derivação prefixal, derivação sufixal e derivação parassintética.

  • Derivação prefixal: adição de um prefixo ao radical. Exemplo: infraestrutura.
  • Derivação sufixal: adição de um sufixo ao radical. Exemplo: sapateiro.
  • Derivação parassintética: adição de um prefixo e um sufixo simultaneamente. Exemplo: envelhecer. Note que, se um dos afixos for retirado, a palavra deixa de existir (não existe “envelh” nem “velhecer”).

Observação importante: há palavras com prefixos e sufixos que não são formadas por derivação parassintética. É o caso de "descarregamento".

De acordo com a Gramática Houaiss, parece um caso de derivação em dois estágios: primeiro com derivação prefixal (des + carregar), depois com derivação sufixal (descarregar + mento).

Esse é um caso de derivação prefixal e sufixal, e não de derivação parassintética. Nesta, a palavra deixa de existir se tirarmos um dos afixos.

Veja também:

Referências:

  • AZEREDO, J. C. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. 2. ed. São Paulo: Publifolha, 2008.
  • CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro, Lexikon, 2016.
  • ROCHA LIMA, C. H. da. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: José Olympio, 2011.
Louise Oliveira
Louise Oliveira
Graduada em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é professora de Língua Portuguesa, autora de materiais didáticos e revisora de textos. Apaixonada pela escrita e pelo ensino de língua materna, produz conteúdos educacionais desde 2009 e carrega o propósito de levar educação de qualidade a todos.

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