Quinhentismo é o nome que se dá ao período das primeiras manifestações literárias no Brasil, a partir da sua descoberta pelos portugueses em 1500 e ao longo do século XVI.
Essas manifestações são conhecidas como textos de informação, com o objetivo de relatar as impressões dos viajantes e missionários sobre a natureza e o homem brasileiro.
Assim, as principais características do Quinhentismo são a literatura de informação e a literatura de catequese. Já as obras e os autores que se destacam são a Carta de Pero Vaz de Caminha (1500) e os poemas do Padre José de Anchieta.
Paralelamente ao Quinhentismo, ocorria o Classicismo em Portugal e outros países europeus. Na época, Portugal vivia as mudanças do Renascimento e o Brasil era colônia de exploração.
Os textos produzidos no Quinhentismo eram voltados para o processo de colonização. Eles possuem valor de documentação histórica e podem ser classificados em duas categorias: literatura de informação e literatura de catequese. Veja suas características.
Literatura de informação
Também conhecida como literatura de viagens, contempla:
Literatura de catequese
Apresenta textos com o objetivo de converter os indígenas à religião católica e contempla:
É importante observar que os textos de informação são crônicas históricas que fazem parte da história inicial da literatura no Brasil. Eles revelam a perspectiva e a linguagem do estrangeiro sobre a terra e os indígenas, sendo fonte de inspiração para textos literários desenvolvidos posteriormente.
Pero Vaz de Caminha (1450-1500)
Pero Vaz de Caminha foi escrivão-mor da armada portuguesa e o primeiro a descrever a terra encontrada. Sua Carta, escrita em 1º de maio de 1500, ficou restrita à Coroa por conter informações confidenciais, sendo guardada em sigilo até o início do século XIX.
Atualmente, o documento faz parte do registro da Memória do Mundo da Unesco (desde 2005). Leia um trecho.
De ponta a ponta é toda praia rasa, muito plana e bem formosa. Pelo sertão, pareceu-nos do mar muito grande, porque a estender a vista não podíamos ver senão terra e arvoredos, parecendo-nos terra muito longa. Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro nem prata, nem nenhuma coisa de metal, nem de ferro; nem as vimos. Mas, a terra em si é muito boa de ares, tão frios e temperados, como os de Entre-Douro e Minho, porque, neste tempo de agora, assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas e infindas. De tal maneira é graciosa que, querendo aproveitá-la dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem. Mas o melhor fruto que nela se pode fazer, me parece que será salvar esta gente; e esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza nela deve lançar.
(Cronistas e viajantes. São Paulo: Abril Educação, 1982.)
José de Anchieta (1534-1597)
Nascido nas ilhas Canárias, o Padre José de Anchieta foi um jesuíta que se destacou no trabalho e pela qualidade dos seus textos. Escreveu poemas, crônicas históricas e uma gramática do tupi. Além disso, ajudou a fundar as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.
Anchieta produziu textos de informação, mas também poemas que são relevantes pelo seu valor literário. A linguagem desses poemas segue a tradição medieval espanhola e portuguesa. Veja um exemplo.
Em Deus, meu criador
Não há cousa segura.
Tudo quanto se vê
se vai passando.
A vida não tem dura.
O bem se vai gastando.
Toda criatura
passa voando.
Em Deus, meu criador,
está todo meu bem
e esperança
meu gosto e meu amor
e bem-aventurança.
Quem serve a tal Senhor
não faz mudança.
Outros autores e obras do Quinhentismo que merecem destaque
As cartas dos missionários jesuítas também foram importantes obras no Quinhentismo.
Em 22 de abril de 1500 os portugueses chegam ao Brasil pelas naus comandadas por Pedro Álvares Cabral. Dão o nome à terra descoberta de Terra de Vera Cruz e aportam em Porto Seguro. O Brasil passa, então, a fazer parte da história ocidental.
Na época, Portugal vivia as mudanças do Renascimento. No campo da literatura portuguesa, predominavam os estilos literários do Classicismo, cujo principal representante é Luís de Camões.
Após a chegada ao Brasil, a coroa portuguesa passou a enviar expedições que lhe enviavam informações, catalogando a fauna, a flora e seus habitantes, com a intenção de colonizar a terra.
Em 1549 foi estabelecido o governo geral em Salvador, Bahia, com a chegada de Tomé de Souza e dos primeiros jesuítas, que começaram a estudar e descrever a língua dos indígenas.
Houve um choque cultural entre os colonizadores e os colonizados, sendo que a colonização do Brasil foi marcada pela exploração e aculturação dos indígenas.
Confira questões de vestibular sobre o Quinhentismo. As respostas serão apresentadas ao final dos exercícios.
“Um deles viu umas contas brancas de rosário, acenou que lhas dessem e divertiu-se muito com elas. Enrolou-as ao pescoço, depois tirou-as e embrulhou-as no braço, e acenava para a terra e depois para as contas, e em seguida para o colar do capitão, dando a entender que eles dariam ouro por aquilo. Isto nós entendíamos assim porque queríamos. Mas se ele queria dizer que levaria as contas e mais o colar, isto nós não queríamos entender, porque não lho daríamos.”
(CAMINHA, Pero Vaz de. Carta de Achamento do Brasil. Campinas: Editora da UNICAMP, p. 108, 2001.)
Em seu relato de viagem, Pero Vaz de Caminha
a) descreve a natureza e as pessoas que os portugueses encontraram no Novo Mundo, inventariando os detalhes da viagem, com vistas à preservação da História Colonial.
b) descreve e interpreta os fatos, mostrando que a compreensão dos portugueses sobre os povos originários era mediada pelos interesses do colonizador.
c) descreve como os povos originários do Novo Mundo auxiliaram os colonizadores na prospecção por riquezas, antevendo a realização do projeto colonizador.
d) descreve e interpreta os fatos, sugerindo que, na visão dos povos originários, era possível a convivência pacífica com o colonizador, já que compartilhavam os mesmos interesses.
O Brasil dos primeiros tempos foi objeto de uma avidez colonial. A literatura que lhe corresponde é, por isso, de natureza parcialmente superlativa. O conhecimento da terra compõe-se muitas vezes com intenções exclamativas. É exemplo dela a História da Província de Santa Cruz, de Pero de Magalhães Gandavo.
O excerto acima, do historiador e crítico José Guilherme Merquior, diz respeito
a) a manifestações da literatura barroca que se desenvolveu no século XVIII.
b) à formação de um público leitor, incentivada pelos missionários estrangeiros.
c) à literatura de informação característica do primeiro século da nossa colonização.
d) ao ufanismo de nossas letras, que já se manifestava um século antes do Romantismo.
e) à ênfase patriótica com que as academias arcádicas marcavam sua produção.
As Tiras do Armandinho constituem uma série de quadrinhos brasileira protagonizada por um menino de cabelo azul chamado Armandinho. Leia uma delas a seguir:
Na tirinha, Armandinho escuta uma criança indígena, que reflete acerca da noção de “terra”. Qual a diferença de sentido atribuído à “terra” em relação ao sentido da mesma palavra na Carta da Caminha?
1. Letra b. |
2. Letra c. |
3. Gabarito da UFJF: Enquanto a ideia de terra em Caminha é associada a um recurso, na tira terra é associada a um sentimento de pertencimento. |
Veja também:
Referências
ABAURRE, Maria Luiza M.; ABAURRE, Maria Bernadete; PONTARA, Marcela. Português: contexto, interlocução e sentido. 3ª ed. São Paulo: Moderna, 2016.
BOSI, Alfredo. História concisa da Literatura Brasileira. 50 ed. São Paulo: Cultrix, 2015.