O Realismo é um movimento da literatura e da arte que buscou abordar temas do dia a dia com um olhar objetivo e analítico, pautado na crítica e na denúncia social.
Iniciado na França, o Realismo se estendeu pela Europa e outros continentes na segunda metade do século 19. Sua principal característica é a representação realista de personagens e ambientes cotidianos, enfatizando aspectos sociais e morais da vida comum.
Esse movimento foi influenciado pelas teorias do positivismo de Comte, do determinismo de Taine e do evolucionismo de Darwin. Entre seus mais destacados representantes na literatura estão Gustave Flaubert na França, Eça de Queirós em Portugal e Machado de Assis no Brasil.
O Realismo foi uma reação de oposição ao Romantismo, movimento anterior que valorizava a subjetividade, a emoção e a idealização da realidade. Um dos desdobramentos do Realismo é o Naturalismo, que procurou aprofundar a perspectiva crítica das obras a partir de princípios das teorias da época.
O Realismo surgiu em um período marcado pela industrialização e pelo progresso das ciências e da tecnologia. Esse contexto também viu a ascensão da burguesia e a intensificação do capitalismo.
Na França, onde o movimento começou, houve intensas lutas sociais, especialmente envolvendo os trabalhadores, que enfrentavam indignas condições de trabalho, fome, miséria e humilhação.
O avanço científico, com seus métodos racionais, começou a influenciar várias áreas do conhecimento. A objetividade e o racionalismo ganharam importância, e a visão idealizada do Romantismo passou a ser questionada.
Isso também afetou a arte e a literatura, que buscaram abordar suas obras com base em teorias da época. São elas:
Um exemplo do vínculo entre a literatura e essas teorias no período pode ser visto nesta afirmação de Émile Zola, escritor francês, sobre uma de suas obras:
Aí está o livro todo. Escolhi personagens soberanamente dominadas pelos nervos e pelo sangue, desprovidas de livre-arbítrio, arrastadas a cada ato de sua vida pelas fatalidades da própria carne. (...). Começa-se a compreender (espero-o) que o meu objetivo foi acima de tudo um objetivo científico.
(Prefácio à 2ª edição de Thérèse Raquin, 1868.)
O Realismo literário teve como marco inicial a obra Madame Bovary, de Gustave Flaubert, publicada em 1857.
Em Portugal, o início do movimento ocorre com a Questão Coimbrã em 1865. Já a origem no Brasil é considerada a partir da publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), de Machado de Assis.
Na arte, um dos principais representantes e precursores da pintura realista foi Gustave Courbet (1819-1877). Uma de suas obras mais conhecidas é “O homem desesperado”.
O Realismo foi um movimento de reação ao Romantismo. Veja as suas principais características.
No Brasil, o marco inicial do movimento foi com a obra Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), de Machado de Assis. Na época, a circulação de obras literárias era bem restrita a capitais e cidades desenvolvidas do país, onde se concentrava o público leitor. Além dos livros, a literatura era divulgada em revistas e jornais (folhetins).
Os grandes acontecimentos no Brasil envolveram a Abolição da Escravatura em 1888, a Proclamação da República em 1889 e a fundação da Academia Brasileira de Letras em 1897 por Machado de Assis e outros escritores. Nesse período, as cidades se modernizaram e os escritores começaram a receber reconhecimento social.
Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908), nascido no Rio de Janeiro, era filho de um pintor mulato e de uma lavadeira de roupa açoriana. Ele deixou um legado vasto, como peças teatrais, crônicas, contos, romances, além de trabalhos de crítica literária e teatral.
Suas obras refletiram profundamente sobre os conflitos psicológicos, incluindo medos, inseguranças, desejos e sentimentos de culpa dos personagens. A linguagem usada pelo escritor era carregada de ironia e ambiguidade, como neste exemplo:
Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se-me uma ideia no trapézio que eu tinha no cérebro. (...) Essa ideia era nada menos que a invenção de um medicamento sublime, um emplasto anti-hipocondríaco, destinado a aliviar a nossa melancólica humanidade. Na petição de privilégio que então redigi, chamei a atenção do governo para esse resultado, verdadeiramente cristão. Todavia, não neguei aos amigos as vantagens pecuniárias que deviam resultar da distribuição de um produto de tamanhos e tão profundos efeitos. Agora, porém, que estou cá do outro lado da vida, posso confessar tudo: o que me influiu principalmente foi o gosto de ver impressas nos jornais, mostradores, folhetos, esquinas, e enfim nas caixinhas do remédio, estas três palavras: Emplasto Brás Cubas. Para que negá-lo? Eu tinha a paixão do arruído, do cartaz, do foguete de lágrimas. Talvez os modestos me arguam esse defeito; fio, porém, que esse talento me hão de reconhecer os hábeis.
(Memórias póstumas de Brás Cubas)
A data que marcou o início do Realismo em Portugal foi 1865, com a Questão Coimbrã. Esse nome se refere aos debates na Universidade de Coimbra entre escritores românticos e realistas.
Na época, Feliciano de Castilho, autor do Romantismo, criticou os realistas por falta de bom senso e bom gosto. Em resposta, Antero de Quental escreveu uma carta intitulada “Bom Senso e Bom Gosto” (1865), obra que defendeu o realismo como um movimento de denúncia dos males da sociedade.
Antero de Quental foi amigo de Eça de Queirós, o grande expoente literário do movimento no país. Dentre as obras de Eça de Queirós destacam-se O Crime do Padre Amaro (1875), O Primo Basílio (1878), O Mandarim (1879) e Os Maias (1888).
Veja também:
Referências
BOSI, Alfredo. História concisa da Literatura Brasileira. 50 ed. São Paulo: Cultrix, 2015.
REIS, Carlos (dir.) História da literatura portuguesa. Lisboa: Alfa, 2001, v.5.