Texto dissertativo: o que é e como fazer (com exemplos)

Louise Oliveira
Louise Oliveira
Professora de Português

O texto dissertativo é um texto em que o autor apresenta suas ideias sobre um tema de forma clara e organizada, revelando a sua opinião. Apresenta três partes em sua estrutura: introdução, desenvolvimento e conclusão.

Também chamado de dissertação, é muito cobrado em vestibulares, concursos e na universidade. Por meio dele, o autor pode mostrar sua capacidade de analisar e explicar assuntos, demostrando seus conhecimentos.

Existem dois tipos de texto dissertativo: o argumentativo e o expositivo. O foco do expositivo está em mostrar informações. Já o texto dissertativo-argumentativo, além de expor o tema, busca convencer o leitor a adotar um ponto de vista. Para isso, o autor investe em argumentos, provas e técnicas, deixando clara a sua posição.

Exemplo de texto dissertativo-argumentativo

Os medicamentos vendidos sem receita, também chamados de Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs), [...] não devem ser comercializados em supermercados, e existem alguns motivos para isso. Um MIP não é uma mercadoria qualquer — como uma bala, um biscoito, um sabonete. Medicamento é coisa séria, e por mais que ele possa ser vendido sem a prescrição de um médico, não é isento de riscos e não dispensa a orientação por um profissional qualificado, como o farmacêutico.

Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2023/11/medicamentos-sem-receita-devem-ser-vendidos-em-supermercados-nao.shtml. (Fragmento)

No trecho apresentado, veja como o autor assumiu uma posição contrária diante do tema da venda de MIPs em supermercados e apresentou argumentos para defender seu ponto de vista.

Exemplo de texto dissertativo-expositivo

Julho, agosto e setembro tiveram as temperaturas mais altas já aferidas pelo homem, e assim deve ser o ano de 2023 —El Niño também é responsável por isso. No Brasil, o evento ocasiona menos precipitação nas regiões Norte e Nordeste e elevação no Sul.

A derrubada da floresta para pecuária e plantio constitui a maior fonte de poluição climática por aqui. Conter esse avanço é a maior contribuição que o Brasil pode dar para mitigar a crise do clima.

Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2023/10/amazonia-seca.shtml. (Fragmento)

Nesse trecho, a intenção do autor é mostrar a gravidade da situação climática do Brasil, embora sugira uma possível solução.

Estrutura do texto dissertativo

A estrutura do texto dissertativo apresenta três partes. Elas precisam estar ligadas e fazer sentido juntas, proporcionando sua progressão.

Introdução

Contextualiza o leitor por meio do tema e da tese (ponto de vista). Assim, apresenta o problema e ideias que ajudam o leitor a entender sobre o que trata o texto.

Desenvolvimento

Explica detalhadamente o tema, mostrando os motivos e argumentos que sustentam a tese do autor.

A argumentação precisa ser fundamentada em fatos verídicos e dados concretos. Para isso, são usados dados estatísticos, exemplos, citações, analogias, entre outros recursos.

Conclusão

Fecha as ideias trabalhadas, com o resumo dos pontos discutidos. O autor pode expressar sua posição em relação ao assunto tratado.

Como fazer um texto dissertativo

Para que seu texto seja coerente e coeso, você precisa de um bom planejamento e uma boa revisão. Confira este passo a passo.

1. Delimite o assunto, o tema, o objetivo e a tese

Em outras palavras, tenha foco ao produzir o seu texto.

  • O assunto é o tópico geral. Exemplo: Criação de filhos.
  • O tema é um recorte do assunto (mais específico). Exemplo: Criação de filhos em espaços urbanos.
  • O objetivo é o que o autor pretende demonstrar. Exemplo: Mostrar que, embora existam perigos associados à violência em centros urbanos, há alternativas para que as crianças frequentem os espaços urbanos e exercitem a cidadania.
  • A tese é o ponto de vista a ser defendido. Exemplo: As crianças precisam interagir mais com a cidade e sair da bolha dos espaços privados.

Muitas vezes, as propostas de produção de texto já vêm com o tema especificado, cabendo ao autor elaborar a tese e o objetivo.

2. Faça um rascunho, anotando suas ideias iniciais

Faça anotações, procurando registrar avaliações e opiniões sobre o tema. Além disso, organize as ideias que forem surgindo, colocando próximas aquelas que são semelhantes.

3. Comece o texto dissertativo pensando em orientar o leitor para as ideias que serão desenvolvidas

Existem diferentes maneiras de começar um texto dissertativo, e você pode escolher a que achar mais adequada: definição de um conceito, afirmação inicial, citação de fatos históricos, lendas ou tradições que tenham relevância para o tema, declaração surpreendente, descrição, entre outras.

4. Revise o seu texto após escrevê-lo

As três partes do seu texto precisam apresentar clareza e conexão, por isso é fundamental revisá-lo, de forma a observar se está coerente (ideias bem conectadas) e coeso (aspectos gramaticais usados corretamente).

Outro ponto importante é garantir que o texto apresente uma argumentação de qualidade (o que chamamos de objetividade).

Modelo de redação dissertativa argumentativa

Um caso particular de texto dissertativo-argumentativo é a redação do Enem. Ela tem como principais características:

  • ser escrita em linguagem impessoal (3ª pessoa);
  • apresentar tese, argumentos e uma proposta de intervenção;
  • ser avaliada com base em 5 competências definidas pelo Enem.

Veja um exemplo de redação nota 1000, elaborada por Maria Fernanda Simionato.

Tema: Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil - 2022

Historicamente, a partir da implementação das missões jesuíticas no Brasil colonial, os povos nativos tiveram suas tradições suprimidas e o seu conhecimento acerca das peculiaridades territoriais menosprezado. Na contemporaneidade, a importância dessas populações configura um fator indispensável à compreensão da diversidade étnica do nosso país. Contudo, ainda persistem desafios à valorização dessas comunidades, o que interfere na preservação de seus saberes. Logo, urgem medidas estatais que promovam melhorias nesse cenário.

Sob esse viés, é válido destacar a fundamentabilidade dos povos tradicionais como detentores de pluralidade histórica e cultural, que proporciona a disseminação de uma vasta sabedoria na sociedade. Nesse sentido, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) afirma as heranças tradicionais desses grupos como constituintes do patrimônio imaterial brasileiro. Dessa forma, sabe-se que a contribuição desses indivíduos para a formação intelectual do corpo social engloba práticas de sustentabilidade, agricultura familiar e, inclusive, confere a eles uma participação efetiva na economia do país. Assim, evidencia-se a extrema relevância dessas comunidades para a manutenção de conhecimentos diferenciados, bem como para a evolução da coletividade.

Entretanto, a falta de representantes políticos eleitos para essa classe ocasiona a desvalorização das suas necessidades sociais, que não são atendidas pelos demais legisladores. Nesse contexto, a Constituição Federal assegura direitos inalienáveis a todos os cidadãos brasileiros, abordando o dever de inclusão de povos tradicionais nas decisões públicas. Desse modo, compreende-se que a existência de obstáculos para o reconhecimento da importância de populações nativas se relaciona à ineficácia na incorporação de representantes que sejam, de fato, interessados na perpetuação de saberes e técnicas ancestrais propagados para esses grupos. Sendo assim, comprova-se a ocorrência de um grave problema no âmbito coletivo, o qual impede a garantia plena dos direitos básicos dessas pessoas.

Diante do exposto, denota-se a urgência de propostas governamentais que alterem esse quadro. Portanto, cabe ao Estado – cuja função principal é a proteção dos direitos de seus cidadãos – a implantação de mudanças no sistema eleitoral, por meio da criação de cotas rígidas para a eleição de políticos oriundos de localidades nativas. Tal reestruturação terá como finalidade a valorização de povos tradicionais, reconhecendo a sua fundamentalidade na composição histórica e cultural da sociedade brasileira."

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Referência

THEREZO, Graciema Pires. Redação e leitura para universitários. Campinas, São Paulo: Alínea, 2007.

Louise Oliveira
Louise Oliveira
Graduada em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é professora de Língua Portuguesa, autora de materiais didáticos e revisora de textos. Apaixonada pela escrita e pelo ensino de língua materna, produz conteúdos educacionais desde 2009 e carrega o propósito de levar educação de qualidade a todos.

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